Pesquisa revela que privação materna no início da vida pode prejudicar desenvolvimento físico

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 29/12/2016 às 16:11
Estudo com ratos revelou que privação materna no início da vida pode resultar em baixo peso na fase adulta. Conclusões podem ajudar investigações sobre efeitos em seres humanos (Foto: Pixabay)
Estudo com ratos revelou que privação materna no início da vida pode resultar em baixo peso na fase adulta. Conclusões podem ajudar investigações sobre efeitos em seres humanos (Foto: Pixabay) FOTO: Estudo com ratos revelou que privação materna no início da vida pode resultar em baixo peso na fase adulta. Conclusões podem ajudar investigações sobre efeitos em seres humanos (Foto: Pixabay)

Uma pesquisa do Grupo de Estudos de Neurobiologia do Estresse e suas Desordes da Universidade Federal de São Paulo (Gened/Unifesp) revelou que a privação materna no início da vida pode resultar em baixo peso na fase adulta. O déficit no desenvolvimento físico, notado em ratos adolescentes e adultos, é relacionado à redução da ingestão de alimentos, uma consequência direta do estresse ao qual foram submetidos durante o estudo.

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Conduzida pela docente associada, livre docente e coordenadora do Gened, Deborah Suchecki, a pesquisa analisou 30 ninhadas divididas em três grupos - dois deles separados de suas respectivas mães durante 24 horas, período em que não foram alimentados, mas foram mantidos aquecidos, e comparados ao grupo que permaneceu intacto. Um dos grupos foi separado da mãe no terceiro dia de vida e o outro no 11º dia. Tal protocolo foi adotado, explica a pesquisadora, pois os ratos jovens respondem distintamente ao estresse em função da idade. "A presença da mãe impede essa resposta, pois esses hormônios prejudicam o desenvolvimento físico e do sistema nervoso central", explica.

Os ratos permaneceram junto às suas mães até o desmame, no 21º dia de vida. Depois desse período, foram alojados em duplas (irmãos do mesmo sexo) e alimentados livremente com ração padronizada. Durante 30 dias, foram avaliados diariamente o consumo de ração e semanalmente o peso corporal. A pesquisadora constatou que, apesar da livre demanda de alimento, os animais privados da mãe apresentavam peso menor em comparação ao grupo controle. "Naturalmente, a privação materna durante as 24 horas produz perda imediata de peso do corpo. Porém, os animais separados da mãe no 3° dia e no 11° dia apresentaram baixo peso na adolescência e na fase adulta mesmo com livre demanda de alimentos. Eles comiam menos, especialmente à noite, período em que são mais ativos", analisa Suchecki.

Uma investigação mais profunda dos hormônios circulantes no núcleo arqueado do hipotálamo dos ratos revelou a causa do baixo peso. Deborah descobriu que os animais submetidos ao estresse durante as 24 horas apresentavam menor produção do Neuropeptídio Y em comparação ao grupo controle. O neurotransmissor é responsável pela regulação de diversos processos metabólicos, entre eles estimular o comportamento de ingestão de alimentos. "O NPY, apesar de ser produzido em uma região específica do cérebro, tem sua liberação regulada pelos hormônios Leptina ("hormônio da saciedade") e Ghrelina ("hormônio da fome"), cujas ações são afetadas pelo estresse da separação maternal. A disponibilidade desses hormônios durante o período neonatal dos ratos pode alterar o ganho de peso corporal, composição e comportamento alimentar", explica a pesquisadora.

A conclusão é que a resposta à privação materna pode ser mediada pelos sinais metabólicos. Os resultados da pesquisa lançam nova luz sobre os efeitos da perda do cuidado parental para o comportamento e o desenvolvimento neurológico de ratos, mas suas principais conclusões podem ser projetadas para investigações futuras sobre os efeitos em seres humanos. "A redução da ingestão de alimentos pode representar uma resposta adaptativa dos animais a um ambiente que pode ser imprevisível e incerto. Essa premissa pode ser entendida como padrão entre os mamíferos. São necessários estudos conclusivos, mas estamos no caminho para entender essa questão", comemora a pesquisadora.