Além das articulações: artrite reumatoide pode comprometer olhos, coração e pulmões

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 26/12/2016 às 10:04
A artrite reumatoide estimula desenvolvimento de uma inflamação na esclera, o tecido fibroso que reveste o globo ocular. Nesses casos, podem ocorrer catarata, descolamento da retina e glaucoma (Foto: Free Images)
A artrite reumatoide estimula desenvolvimento de uma inflamação na esclera, o tecido fibroso que reveste o globo ocular. Nesses casos, podem ocorrer catarata, descolamento da retina e glaucoma (Foto: Free Images) FOTO: A artrite reumatoide estimula desenvolvimento de uma inflamação na esclera, o tecido fibroso que reveste o globo ocular. Nesses casos, podem ocorrer catarata, descolamento da retina e glaucoma (Foto: Free Images)

Entre as doenças reumáticas mais comuns, a artrite reumatoide requer atenção especial porque pode acometer mais do que as articulações. Com a evolução da enfermidade, os danos podem se estender a órgãos como pulmões e coração. Estima-se que 40% dos pacientes apresentem essas manifestações extra articulares em algum momento. Desse universo, 15% são considerados comprometimentos graves.

Doença autoimune (o sistema imunológico passa a atacar o próprio organismo), a artrite reumatoide geralmente afeta primeiramente as articulações das mãos e dos pulsos. Com o passar do tempo, a doença pode progressivamente avançar sobre os cotovelos, joelhos e quadris, prejudicando a locomoção e a realização de atividades cotidianas.

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A doença provoca um processo inflamatório sistêmico - ou seja, não se restringe a uma única região do corpo. O comprometimento mais amplo é frequentemente observado em pacientes com artrite reumatoide de pior prognóstico, que apresentam várias articulações afetadas, sorologia positiva para fator reumatoide e um anticorpo específico, o antipeptídeo citrulinado cíclico.

Entre as maiores preocupações dos reumatologistas, estão os efeitos da artrite reumatoide na saúde cardiovascular, pois a doença estimula um processo inflamatório crônico, o que favorece quadros de aterosclerose (formação de placas na parede dos vasos, podendo levar à obstrução dessas estruturas). Um artigo publicado no Annals of the Rheumatic Diseases e feito por pesquisadores canadenses demonstrou que o risco de esse paciente apresentar uma doença cardiovascular é 48% maior em comparação com a população geral e chega a 68% para os quadros de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Esse artigo avaliou 14 estudos científicos, envolvendo 41.490 pacientes.

“Antigamente, a pessoa com artrite reumatoide morria por causa das infecções. Com a melhoria do tratamento, contudo, as doenças cardiovasculares passaram a ser a principal causa de morte para esse paciente”, afirma a reumatologista Ieda Laurindo, doutora em medicina pela Universidade de São Paulo (USP).

Comprometimentos

A artrite reumatoide também estimula o desenvolvimento de uma inflamação grave na esclera, o tecido fibroso que reveste o globo ocular, popularmente conhecido como “branco do olho”. Nesses casos, podem ocorrer catarata, descolamento da retina e glaucoma, com risco de perda severa da visão ou até mesmo de cegueira.

Não raramente, o paciente com artrite reumatoide pode desenvolver uma segunda doença autoimune associada, chamada síndrome de Sjögren. Essa condição afeta as glândulas lacrimais e salivares, provocando secura, vermelhidão e sensação de areia nos olhos, além de boca seca. Com isso, costumam ocorrer dificuldades para consumir alimentos sem a ingestão de água, uma vez que a língua pode grudar no céu da boca, provocando pequenas feridas.

As complicações pulmonares constituem outro ponto de atenção para as pessoas com artrite reumatoide, pois são responsáveis por até 20% das mortes nesse grupo de pacientes. E quadros de anemia associados à doença crônica, que costumam acometer pessoas com distúrbios infecciosos e inflamatórios crônicos ou pacientes oncológicos, representam outra alteração importante para as pessoas com artrite reumatoide. “Nesses casos, não resolve o paciente se alimentar corretamente e complementar o ferro. Esse tipo de anemia só desaparece quando a artrite reumatoide é tratada adequadamente”, reforça a médica.

Há tratamentos capazes de controlar a enfermidade, principalmente quando o diagnóstico é feito precocemente. Existem medicações que diminuem a atividade da doença e, dessa maneira, é possível prevenir danos irreversíveis nas articulações, aliviar a dor, reduzir manifestações extra articulares e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Entre as opções medicamentosas, está o citrato de tofacitinibe - um medicamento modificador do curso da doença (DMARD) não biológico e alvo-específico. Ele apresenta um mecanismo que age dentro das células, inibindo a janus quinase, uma proteína importante nos processos inflamatórios característicos da enfermidade. O medicamento é indicado para o tratamento de pacientes adultos com artrite reumatoide ativa moderada a grave, que apresentaram uma resposta inadequada a um ou mais DMARDs.