Estudo revela que gravidez causa mudanças no cérebro da mulher

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 24/12/2016 às 14:00
Mudanças no cérebro da mulher após a gravidez provavelmente são destinadas a melhorar a capacidade da mãe para proteger e relacionar-se com o bebê (Foto ilustrativa: Pixabay)
Mudanças no cérebro da mulher após a gravidez provavelmente são destinadas a melhorar a capacidade da mãe para proteger e relacionar-se com o bebê (Foto ilustrativa: Pixabay) FOTO: Mudanças no cérebro da mulher após a gravidez provavelmente são destinadas a melhorar a capacidade da mãe para proteger e relacionar-se com o bebê (Foto ilustrativa: Pixabay)

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e do Instituto Hospital del Mar de Investigações Médicas (IMIM), revelou que a gravidez provoca alterações duradouras na estrutura do cérebro da mulher. As mudanças, segundo a pesquisa, provavelmente são destinadas a melhorar a capacidade da mãe para proteger e relacionar-se com o bebê. O levantamento, que contou com a colaboração da clínica IVI Barcelona, foi publicado na revista científica Nature Neuroscience.

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A gravidez implica em mudanças hormonais radicais e adaptações biológicas, mas seus efeitos no funcionamento do cérebro ainda eram desconhecidos. Pela primeira vez uma equipe de pesquisadores realizou um estudo que compara a estrutura do cérebro das mulheres antes e depois da primeira gestação. A investigação científica é a primeira a demostrar que a gravidez implica em mudanças na morfologia cerebral das mães, e que estas alterações são mantidas a longo prazo; ao menos até dois anos após o parto.

"Mediante a análise de imagens de ressonância magnética foi possível observar nas mulheres uma mudança de volume da massa cinzenta em certas regiões relacionadas com as relações sociais. Parte dessas regiões são ativadas quando a mulher observa a imagem do seu bebê, levando à conclusão que as mudanças correspondem a uma especialização do cérebro para encarar os desafios da maternidade", explica Agustín Ballesteros, diretor do IVI Barcelona e colaborador do estudo.

A alteração da massa cinzenta observada é uma redução do volume, porém não existem evidências que esta redução implique em uma perda de memória nem outras funções intelectuais das mulheres que participaram da pesquisa. Portanto, aparentemente a perda de massa cinzenta não implica em déficit cognitivo. "Se trata de uma reestruturação do cérebro com o objetivo de adaptação para aumentar a sensibilidade da mãe para detectar, por exemplo, expressões de ameaça e também para reconhecer mais facilmente o estado emocional do bebê", ressalta Ballesteros.

"Toda mulher sente que sua forma de pensar muda após ter filhos e agora sabemos que isso não é apenas uma sensação e nem tão somente emocional", conclui Genevieve Coelho, ginecologista especialista em reprodução humana e diretora da clínica IVI Salvador. "A pesquisa também comparou as variações entre as mulheres que engravidaram naturalmente com aquelas que fizeram tratamentos de reprodução assistida e viram que as mudanças cerebrais não dependem da forma em que a gravidez foi obtida", complementa a especialista.

Sobre a pesquisa

Os cientistas compararam imagens de ressonância magnética de 25 gestantes antes e depois do parto, dos parceiros de 19 delas e um grupo de controle formado por 20 mulheres que não estavam grávidas e nem tinham engravidado anteriormente e 17 parceiros delas. O acompanhamento dos voluntários para o estudo foi realizado durante 5 anos e 4 meses.

A redução da massa cinzenta ocorreu em todas as gestantes estudadas e foi exclusiva delas, o que indica que as mudanças no cérebro ocorreram como consequência de processos biológicos sucedidos durante a gestação, e não relacionados ao nascimento do bebê, algo que também ocorre com os pais.

O estudo permitiu determinar sem ambiguidade se uma mulher havia gestado anteriormente em função das alterações no cérebro e inclusive prever o grau do vínculo com os bebês após o parto, dependendo das alterações observadas.