Conheça a discalculia, distúrbio que dificulta a compreensão da matemática

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 17/10/2016 às 8:30
Distúrbio de aprendizagem pouco conhecido pode prejudicar a vida escolar e cotidiana da criança se não diagnosticado corretamente (Foto: Pixabay)
Distúrbio de aprendizagem pouco conhecido pode prejudicar a vida escolar e cotidiana da criança se não diagnosticado corretamente (Foto: Pixabay) FOTO: Distúrbio de aprendizagem pouco conhecido pode prejudicar a vida escolar e cotidiana da criança se não diagnosticado corretamente (Foto: Pixabay)

Ajudar os filhos com as tarefas escolares é uma entre tantas missões dos pais. Orientar os pequenos nas resoluções de questões de português, história ou geografia costuma ser mais fácil quando comparado aos quesitos de matemática. O bloqueio com os números enfrentado por alguns pequenos pode parecer preguiça ou falta de interesse num assunto tão complicado. Mas o que muitos não sabem é que essa dificuldade extrema em compreender a matemática e seus conceitos pode não ser normal. Esse problema tem nome e se chama discalculia, um distúrbio de aprendizagem pouco conhecido que pode prejudicar a vida escolar e cotidiana da criança se não diagnosticado corretamente.

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Crianças que convivem com o problema não conseguem, por exemplo, identificar sinais matemáticos ou resolver operações básicas apresentadas aos pequenos nos primeiros anos de alfabetização, como adição e subtração. "É normal que as crianças tenham certa resistência com matemática. Mas, na discalculia, mesmo com uma boa oportunidade pedagógica e ensino adequado, o aluno continua com muita dificuldade no processamento da informação. Algumas vezes, o distúrbio também pode estar associado a outras questões de aprendizagem, como a dislexia (distúrbio do aprendizado caracterizado pela dificuldade para ler)", explica a fonoaudióloga e doutora em psicologia Bianca Queiroga, professora do curso de fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Por ser um problema ainda pouco perceptível por muitos pais, a discalculia tende a ser confundida com teimosia ou desinteresse por parte do pequeno em aprender os conceitos matemáticos. Por isso, a dica dos especialistas é acompanhar de perto a educação da criança, consultando sempre a direção da escola para tomar conhecimento da evolução escolar do aluno. "É no ciclo da alfabetização, entre os 6 e 8 anos, que o distúrbio se torna mais perceptível. Não é só uma questão ligada ao ensino. Recorrer apenas a um professor particular, por exemplo, não vai resolver o problema. Há que se investigar a fundo a dificuldade e instrumentalizar a criança para que ela busque uma forma alternativa de estudo e capte o conceito matemático, superando seus problemas e seguindo a vida acadêmica e social sem maiores dificuldades", ressalta Bianca.

O diagnóstico deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, composta de psicopedagogo, fonoaudiólogo e neuropediatra. "Esses distúrbios de aprendizagem e outros transtornos requerem um diagnóstico multidisciplinar porque, ao contrário de outros problemas, não há um marcador ou um teste específico para identificá-lo. Nós realizamos algumas testagens com várias metodologias, além de solicitar um inquérito escolar e pedagógico da criança para tentar entender essa dificuldade em diversos cenários", pontua a neuropediatra Adelia Henriques Souza, do Hospital da Restauração (HR) e do Instituto de Medicinal Integral Professor Fernando Figueira (Imip).

Vale lembrar que a discalculia não tem cura, mas uma vez identificada e acompanhada de perto por um profissional especializado, a criança logo aprende a lidar com os conceitos matemáticos não só na vida acadêmica, mas nas operações enfrentadas no cotidiano. "A disfunção vai acompanhar a pessoa ao longo da vida, mas com o acompanhamento do psicopedagogo ela aprende a lidar com o problema e supera as principais dificuldades", reforça a fonoaudióloga Bianca Queiroga.

SUPORTE

A advogada Adelaide Sampaio resolveu buscar formas alternativas para complementar a aprendizagem de seu filho, diagnosticado com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em 2010, à época com seis anos. Hoje, especialista em educação inclusiva e especial, Adelaide comanda uma franquia na capital pernambucana da Tutores Educação Multidisciplinar, instituição com matriz em São Paulo voltada para o reforço escolar multidisciplinar.

A unidade acompanha crianças com diversos transtornos de aprendizagem, entre eles a discalculia. "Alunos com transtornos de aprendizagem geralmente estão à margem nas escolas. A criança começa com dificuldade em matemática e sua autoestima é prejudicada até que se tenha um diagnóstico. É um problema que termina gerando outro problema. Por isso, é fundamental o envolvimento da família e da escola", explica.

No espaço, as crianças desenvolvem diversas estratégias para alcançar autonomia nas tarefas escolares. "Voltamos à base da matemática e ensinamos ao aluno tudo aquilo que ficou pelo meio do caminho e deixou diversas lacunas. Para isso, usamos técnicas para que eles se sintam realmente capazes. Entre elas, estão estratégias de estudo, motivação e jogos para fazer com que a criança ultrapasse a dificuldade com os números", finaliza a especialista.