Viver e morrer com dor: não precisa ser assim

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/10/2016 às 20:37
A essência dos cuidados paliativos consiste em permitir que o paciente e seus parentes possam viver da melhor maneira possível, mesmo diante de uma doença sem cura (Foto: Igo Bione/Divulgação)
A essência dos cuidados paliativos consiste em permitir que o paciente e seus parentes possam viver da melhor maneira possível, mesmo diante de uma doença sem cura (Foto: Igo Bione/Divulgação) FOTO: A essência dos cuidados paliativos consiste em permitir que o paciente e seus parentes possam viver da melhor maneira possível, mesmo diante de uma doença sem cura (Foto: Igo Bione/Divulgação)

O título acima, que leva uma reflexão imensa, é tema de campanha lançada pela Worldwide Hospice Palliative Care Alliance (WHPCA) no Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, lembrado anualmente no segundo sábado de outubro. O mote da campanha faz pensarmos, no mínimo, em como a dor severa e crônica (aquela que perdura por meses e anos), quando não aliviada, traz um leque imenso de perturbações. Para que a dor seja adequadamente identificada e cuidada, é essencial pensar no verbo paliar - que, na saúde, significa cuidar para que o paciente tenha o mínimo de sofrimento.

E é a dor um dos principais sintomas considerados nos cuidados paliativos, que nem sempre são sinônimo de cuidados ao fim da vida. É uma modalidade terapêutica bem mais abrangente e que pode ser iniciada alguns anos antes da morte da pessoa. "Ou até décadas, como no caso de uma demência de progressão lenta", pontua o geriatra Daniel Azevedo, diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) . "A essência dos cuidados paliativos consiste em permitir que a pessoa e seus familiares possam viver da melhor maneira possível o tempo que lhes resta. A intenção não é dar anos à vida; mas sim, vida aos anos" acrescenta o geriatra, um dos organizadores de evento sobre o tema, realizado no último sábado (8), no Rio de Janeiro.

É importante frisar que os cuidados paliativos consideram, para alívio da dor, não apenas tratamento medicamentoso. O sintoma, segundo essa modalidade terapêutica, pode ser controlado por meio de intervenções não apenas do médico, mas também do fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e psicólogo. Aspectos espirituais ainda podem ser considerados, devido ao comprometimento multidimensional da dor.

DADOS

Segundo a Worldwide Hospice Palliative Care Alliance (WHPCA), entidade formada pela aliança de 80 países (entre eles o Brasil), mais de 18 milhões de pessoas morrem com dor no mundo. Lamentavelmente, há pessoas com doenças crônicas, como Alzheimer e alguns tipos de câncer, que vivem com dor subdiagnosticada e negligenciada, o que impacta a qualidade de vida.

Segundo a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), embora no Brasil haja uma política estabelecida no Sistema Único de Saúde (SUS) para prover medicamentos à base de opioides para dor, nem todos os municípios têm acesso a esse tipo de medicação. "Muitos médicos não sabem usar de maneira adequada os opioides e acham que qualquer medicamento serve para a dor. Não é verdade, e o preconceito e a falta de informação dos profissionais da saúde fazem com que muitas pessoas sintam dor desnecessariamente”, afirma a médica Maria Goretti Salles Maciel, presidente da ANCP.

Para disseminar a paliação como linha de cuidado essencial, a presidente da Comissão de Cuidados Paliativos da SBGG, Laiane Dias, defende ser urgente incluir a disciplina de cuidados paliativos no currículo de todas as profissões da área da saúde. Esse é um caminho para compartilhar o conceito de que há sempre muito a se fazer, mesmo que o paciente tenha uma doença para a qual (ainda) não exista cura.