Depressão impacta a qualidade de vida e o tratamento de mulheres com câncer de mama

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 08/10/2016 às 6:04
Ao compartilhar sua história nas redes sociais, Guiong Lee descobriu que podia ajudar outras mulheres com câncer de mama. E depois que começou a vender sapatos, passou a tirar o foco exclusivo da doença (Foto: Guga Matos/JC Imag em)
Ao compartilhar sua história nas redes sociais, Guiong Lee descobriu que podia ajudar outras mulheres com câncer de mama. E depois que começou a vender sapatos, passou a tirar o foco exclusivo da doença (Foto: Guga Matos/JC Imag em) FOTO: Ao compartilhar sua história nas redes sociais, Guiong Lee descobriu que podia ajudar outras mulheres com câncer de mama. E depois que começou a vender sapatos, passou a tirar o foco exclusivo da doença (Foto: Guga Matos/JC Imag em)

Desde que recebeu o diagnóstico de câncer de mama, em outubro de 2013, a comerciante Guiong Lee Ribeiro da Silva, 35 anos, tem compartilhado mensagens positivas em rede social que ajudam as mulheres com a doença a se tornarem mais fortes diante de um tumor acompanhado por sobrecarga psicológica que pode desencadear sentimentos de medo e angústia. “Com a primeira quimioterapia, tive crise de ansiedade forte. Era uma época em que só respirava o câncer e batia um medo do inesperado. Procurei o médico, que prescreveu tratamento para a depressão. Além de tomar medicação, criei um blog para contar a minha história. Desabafar ajudou”, diz.

Guiong Lee representa o universo de pacientes com o tumor que vivenciam um transtorno psiquiátrico que, se não for tratado, impacta negativamente a qualidade de vida e a evolução do câncer. “Meu recado é que as mulheres não aceitem a depressão como algo normal. Procurem ajuda médica e tentem caminhos que levam à solução.” Hoje, depois de ter passado pela mastectomia e reconstrução mamária, quimio e radioterapia, ela conta que venceu os abalos emocionais.

“Em todas as mulheres, a prevalência de depressão é de 3,5% a 7%. Naquelas com câncer de mama, a estimativa pode chegar a 25%, acometendo principalmente mulheres jovens e aquelas submetidas à quimioterapia”, revela o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antônio Geraldo da Silva. Ele reforça que identificar a depressão em pacientes com câncer é um desafio porque vários sintomas do transtorno se confundem com os do próprio tumor, o que torna o diagnóstico impreciso.

"A depressão também pode vir com esquecimento, irritabilidade, ansiedade e medo. Encaminhamos a paciente para o psicólogo. É ainda importante orientar sobre o uso de antidepressivo", diz Cristiana Tavares (Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem) "A depressão também pode vir com esquecimento, irritabilidade, ansiedade e medo. Encaminhamos a paciente para o psicólogo. É ainda importante orientar sobre o uso de antidepressivo", diz Cristiana Tavares (Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem)

"Outro fator que torna o diagnóstico difícil são as alterações do humor da paciente, que passa por um momento de dor e intensa fadiga, principalmente durante o tratamento. É importante o acompanhamento por uma equipe de saúde mental, a fim de aumentar a adesão ao tratamento", complementa o  psiquiatra.

A oncologista Cristiana Tavares, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), acrescenta que nem sempre a depressão está relacionada à falta de ânimo. “O transtorno também pode vir com esquecimento, irritabilidade, ansiedade e medo. Encaminhamos a paciente para o psicólogo. É ainda importante orientar sobre o antidepressivo, já que a maioria dos medicamentos dessa classe pode reduzir ação do tamoxifeno (medicamento que reduz a ação do hormônio estrogênio no organismo), indicado para cerca de 60% das mulheres com câncer de mama”, salienta Cristiana.

Infográfico - Câncer de mama - 08/10/2016