Zika pode lesar o cérebro de bebês mesmo no fim da gestação

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 19/09/2016 às 20:40
Estudo da Rede Zika descreveu manifestações do zika em pacientes transplantados (Foto: FreeImage.com/ Ozgur Sezer)
Estudo da Rede Zika descreveu manifestações do zika em pacientes transplantados (Foto: FreeImage.com/ Ozgur Sezer) FOTO: Estudo da Rede Zika descreveu manifestações do zika em pacientes transplantados (Foto: FreeImage.com/ Ozgur Sezer)

Imagem de ultrassom de bebê (Foto: FreeImage.com/ Ozgur Sezer) Estudo da Rede Zika descreveu manifestações do zika em pacientes transplantados (Foto: FreeImage.com/ Ozgur Sezer)

Da Agência Fapesp de notícias

Um estudo brasileiro publicado na revista Clinical Infectious Diseases revelou que a infecção de gestantes pelo vírus zika pode representar um risco para o desenvolvimento neurológico dos bebês mesmo quando ocorre poucos dias antes do nascimento. “Predominava, até então, o paradigma de que a infecção seria preocupante somente se ocorresse no primeiro trimestre da gestação. No entanto, observamos danos cerebrais em quatro crianças cujas mães foram infectadas faltando entre duas e uma semana para o parto”, afirmou Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e integrante da Rede de Pesquisa sobre zika Vírus em São Paulo (Rede Zika).

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Com apoio da FAPESP, um grupo de 55 mulheres com diagnóstico confirmado de zika durante a gestação – por meio de testes moleculares do tipo PCR em tempo real – tem sido acompanhado no Hospital de Base de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. À medida que os bebês estão nascendo, também estão sendo submetidos a exames detalhados.

Em quatro das crianças expostas ao patógeno no último trimestre de desenvolvimento, exames de imagem revelaram a presença de lesões no sistema nervoso central características de infecções congênitas por vírus. Além disso, no momento do nascimento, foi possível detectar o zika ainda ativo na urina e no sangue dos bebês – o que confirma ter havido transmissão vertical (da mãe para o feto) do vírus. Dois desses casos foram relatados no artigo.

“Esses bebês nasceram com peso e altura normal, não tinham microcefalia ou qualquer outro sintoma da doença. As lesões teriam passado despercebidas pelos profissionais de saúde se as mães não fizessem parte de um grupo de estudo”, comentou Nogueira.

Segundo o pesquisador, o tipo de lesão observada – como, por exemplo, a vasculopatia lentículo-estriada (estrias ou manchas visíveis por meio de ultrassom) – não está associado a manifestações graves em outras situações previamente estudadas. Porém, as implicações no desenvolvimento neurocognitivo dessas crianças infectadas pelo zika ainda são desconhecidas.

“Agora, pretendemos acompanhar o desenvolvimento dos bebês durante alguns anos e observar se haverá algum prejuízo. Essa descoberta revela mais um espectro da doença e a torna ainda mais complexa. Não existem apenas os casos dramáticos de microcefalia, mas também outras manifestações menos graves, que precisam ainda ser melhor compreendidas”, disse Nogueira.

Zika em transplantados

Em outro artigo publicado por pesquisadores da Famerp no American Journal of Transplantation, foram descritas – pela primeira vez no mundo – as manifestações do vírus zika em pacientes submetidos previamente a transplante de órgãos. O estudo também foi coordenado por Nogueira no âmbito da Rede Zika.

Como explicou o pesquisador, esses pacientes fazem uso contínuo de drogas imunossupressoras para evitar que o tecido doado seja rejeitado pelo organismo. Isso torna qualquer quadro infeccioso mais delicado e aumenta o risco de complicações.

“Como São José do Rio Preto é um dos maiores centros transplantadores do interior, e também um grande foco de dengue, temos feito há alguns anos o acompanhamento detalhado dos receptores de órgãos que manifestam sintomas de doença febril. Quando emergiu a epidemia de zika, passamos a investigar quais desses casos suspeitos de dengue eram, na verdade, infecções por Zika”, contou.

Confira a matéria completa no site da Agência Fapesp de notícias.