Medicamento em teste na USP combate a hipertensão em sua origem

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 13/09/2016 às 13:14
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medicamentos-600 Composto controla o aumento da pressão nos casos de hipertensão relacionados à hiperatividade simpática (Foto: Free Images)

Da Agência Fapesp de notícias

Um medicamento capaz de combater a hipertensão arterial por um mecanismo inovador vem sendo testado, com apoio da FAPESP, por um grupo que reúne pesquisadores brasileiros, ingleses e neozelandeses. Os resultados mais recentes dos ensaios pré-clínicos com o composto – por enquanto denominado MK-7264/AF-219 – foram divulgados este mês na revista Nature Medicine. Os testes em humanos já estão sendo planejados na Inglaterra. Caso a terapia se mostre eficaz e segura, poderá beneficiar também pacientes com hipertensão resistente, ou seja, que não respondem aos tratamentos farmacológicos atualmente disponíveis.

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“Este novo medicamento atua bloqueando uma classe de receptores celulares conhecidos como P2X3, ou receptores purinérgicos, presentes em um órgão chamado corpúsculo carotídeo, localizado nas artérias carótidas. Essas células estão anormalmente ativadas em indivíduos hipertensos”, explicou Benedito Honorio Machado, professor do Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).

O medicamento foi desenvolvido pelo laboratório Afferent Pharmaceuticals, atualmente pertencente à Merck, com base em resultados de pesquisas conduzidas ao longo das últimas décadas pelos grupos coordenados por Machado, na USP, e pelo professor Julian Paton, na Universidade de Bristol, Inglaterra. Por meio da cooperação que perdura há mais de 15 anos foram desenvolvidos estudos relacionados à caracterização dos receptores purinérgicos e ao controle cardiovascular. Também colaboraram cientistas da Universidade de Auckland, da Nova Zelândia.

Conforme explicou Machado, o medicamento impede que o receptor P2X3 seja ativado pelo seu “ligante” – no caso, o ATP (adenosina trifosfato, molécula que armazena energia para as atividades celulares). Isso faz com que as células do corpúsculo carotídeo, que nos hipertensos estão hiperativas, voltem ao padrão de atividade considerado normal.

Do tamanho de um grão de arroz, o corpúsculo carotídeo é considerado o menor órgão do corpo humano. Existem dois corpúsculos carotídeos, sendo um em cada artéria carótida responsável por levar o sangue rico em oxigênio que vem do coração para o cérebro.

“Os corpúsculos carotídeos ficam na região do pescoço, onde as artérias carótidas se bifurcam. Funcionam como sensores que alertam o sistema nervoso central quando, por algum motivo, o nível de oxigênio no sangue diminui. Quando esse sinal de alerta chega ao cérebro, é desencadeada uma resposta de aumento da atividade simpática, que faz aumentar a frequência cardíaca e a resistência vascular à passagem do fluxo sanguíneo, causando aumento da pressão arterial. Ocorre também o aumento da respiração para aumentar o aporte de oxigênio para o cérebro”, contou Machado.

Esse é um sistema de defesa necessário, por exemplo, durante um episódio de apneia obstrutiva do sono. A queda na oxigenação causa a ativação das células do corpúsculo carotídeo, que enviam o sinal de alerta para o cérebro.

Em condições fisiológicas, após a normalização do nível de oxigênio do sangue, a atividade simpática volta ao normal, bem como a pressão arterial. Mas experimentos com ratos feitos na FMRP-USP indicaram que, em animais hipertensos, essas células ficam constantemente mandando sinais para o cérebro aumentar a atividade simpática.

“Todos os medicamentos contra a hipertensão hoje disponíveis no mercado interferem nos efeitos finais dessa hiperatividade simpática, ou seja, nas terminações neurais dos vasos e do coração, induzindo a vasodilatação e a queda da pressão arterial. Este novo medicamente vai combater a hipertensão na sua origem, evitando o aumento da atividade simpática”, afirmou Machado.

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