Tamanho da epidemia de zika é subestimado, indica estudo

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 12/08/2016 às 14:15
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Imagem de tubos de ensaio (Foto: Free Images) Estudo da Rede Zika publicado no Journal of Clinical Virology indica que parte dos casos pode estar sendo confundida com dengue (Foto ilustrativa: Free Images)

Da Agência Fapesp de notícias

Um estudo apoiado pela FAPESP e coordenado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) sugere que o tamanho da epidemia causada pelo vírus zika no Brasil pode estar sendo subestimado nas estatísticas oficiais – e parte dos casos confundida com dengue. A equipe, coordenada pelo professor Maurício Lacerda Nogueira, integrante da Rede Zika, analisou por meio de testes moleculares amostras sanguíneas de 800 pacientes com suspeita de dengue atendidos entre janeiro e agosto de 2016. O material foi fornecido pelo Hospital de Base, ligado à Famerp, e pela Secretaria Municipal de Saúde de São José do Rio Preto.

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O diagnóstico inicial – feito com base nos sintomas clínicos e em testes sorológicos – foi confirmado em apenas 400 amostras. Mais de 100 dos casos analisados deram positivo para o vírus zika e, em uma das amostras, foi identificado o vírus causador da febre chikungunha. Nas outras quase 300 amostras restantes não foi encontrado nenhum dos três arbovírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti e os pesquisadores suspeitam que, na realidade, pode se tratar de casos de gripe ou de outras viroses.

Parte dos dados foi publicada este mês no Journal of Clinical Virology. “Esses resultados indicam que aquela divisão clássica que se costuma fazer entre os sintomas – associar conjuntivite ao zika e dor nas articulações ao chikungunha, por exemplo – serve apenas para dar aulas. Na prática, os sintomas se confundem. E também se confundem os resultados dos testes sorológicos atualmente usados na rotina dos laboratórios e serviços de emergência”, afirmou Nogueira.

Embora já tenham sido desenvolvidos novos métodos sorológicos capazes de diferenciar com precisão os anticorpos contra o vírus da Zika e da dengue, ponderou o pesquisador, eles ainda estão restritos ao âmbito da pesquisa acadêmica.

As metodologias hoje disponíveis tanto na rede pública de saúde como nos laboratórios e hospitais particulares, segundo Nogueira, ainda podem dar um resultado falso-positivo de dengue nos casos de pacientes com Zika – uma vez que os dois vírus são muito semelhantes.

“A única forma de ter certeza é por meio de testes moleculares, como o PCR em tempo real – bem mais caro que a sorologia. Os laboratórios de saúde pública, como o Instituto Adolfo Lutz, não conseguem oferecer esse tipo de exame para toda a população e acabam priorizando mulheres grávidas e pessoas com suspeita de Guillain-Barré (uma das complicações neurológicas da infecção pelo Zika)”, acrescentou o pesquisador.

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