Câncer de colo do útero mata uma mulher a cada 90 minutos no Brasil

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/08/2016 às 14:07
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Estima-se que mais de 5 mil mulheres morrem por ano em decorrência do câncer de colo do útero (Foto: Free Images) Estima-se que mais de 5 mil mulheres morrem por ano em decorrência do câncer de colo do útero (Foto: Free Images)

Para chamar a atenção dos brasileiros e dar voz às mulheres que enfrentam o câncer de colo do útero, sociedades médicas, especialistas e organizações não governamentais (ONGs) se uniram à farmacêutica Roche para lançar o movimento Força Amiga. A iniciativa tem como objetivo estimular o apoio a pacientes com a doença e incentivar o debate em torno do câncer de colo do útero, que mata uma mulher a cada 90 minutos no Brasil.

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Dividida em diferentes etapas, a campanha prevê ativação nas redes sociais, com o uso da hastag #ForçaAmiga, além de disseminação de conhecimento entre os especialistas, jornalistas, blogueiras e influenciadores para fomentar uma discussão integral sobre a doença. A iniciativa conta com o apoio da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos - EVA, a Associação Brasileira de Patologia do Trato Genitário Inferior e Colposcopia (ABPTGIC).

Mais de 16 mil mulheres diagnosticadas a cada ano

O câncer de colo do útero é o terceiro mais comum entre as brasileiras. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), serão 16.340 novos casos em 2016, um aumento de 4,8% na incidência (15.590 registrados em 2015). Estima-se ainda que mais de 5 mil mulheres morrem por ano em decorrência da doença, o que totaliza uma morte a cada 90 minutos.

Segundo o médico oncologista e presidente da SBOC, Gustavo Fernandes, o cenário da doença no País é alarmante. As taxas de sobrevivência para o câncer de colo do útero no Brasil estão abaixo daquelas observadas em países desenvolvidos, refletindo um diagnóstico tardio e falhas no tratamento. Apesar da alta incidência e mortalidade, pouco se fala sobre a doença, principalmente na fase avançada.

Uma pesquisa realizada recentemente pelo Instituto Datafolha, constatou que 73% dos brasileiros não conhecem pessoas que tenham ou que já tiveram câncer de colo do útero. “A causa propõe uma verdadeira construção, passo a passo, de um futuro melhor para as mais de 16 mil mulheres que são diagnosticadas todos os anos com a doença”, reforça Fernandes.

Especialistas alegam que o conhecimento insuficiente sobre esse tipo de câncer, as ferramentas para prevenção e tratamento justificam as altas taxas de incidência, morbidade e mortalidade no País. A doença é causada pela infecção (persistente e não tratada adequadamente) por alguns tipos de vírus, como o HPV, que atinge 685,4 mil pessoas no Brasil.

Muitas vezes, barreiras culturais, como a vergonha de realizar exame ginecológico ou proibição por parte de companheiros de passar pelos exames, somam-se à falta de informação. Por isso, a disseminação das ferramentas de controle, como vacina, exame preventivo de papanicolaou e avanços no tratamento precisam ser globalmente difundidos na população.

Fase avançada da doença

No Brasil, 77% das pacientes com câncer de colo do útero são diagnosticadas com a enfermidade já em fases mais avançadas, quando começam a surgir os primeiros sintomas, como sangramentos e dores pélvicas. Um estudo brasileiro, publicado em 2014, com mais de 51 mil mulheres, evidenciou que 20% das brasileiras com câncer de colo do útero apresentam resposta terapêutica inadequada a tecnologias utilizadas atualmente.

Diante desse cenário, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou recentemente a indicação de um medicamento biológico já utilizado em outros países, o bevacizumabe, como a primeira terapia-alvo oferecida para o tratamento do câncer de colo do útero em seu estágio mais grave. Trata-se do primeiro medicamento biológico que trouxe o benefício de taxa de sobrevida global sem redução da qualidade de vida das pacientes com essa doença.