Conheça os próximos passos da pesquisa que confirma muriçoca como transmissora do zika

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 22/07/2016 às 12:35
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Imagem de larvas do mosquito Aedes aegypti (Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem) Até novas evidências, segundo a Fiocruz, a política de controle da zika deve continuar com foco central no controle do Aedes (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

Conhecido popularmente como muriçoca, o mosquito Culex quinquefasciatus é um potencial transmissor do zika vírus. O anúncio foi feito, na tarde da quinta-feira (21), durante coletiva de imprensa no Rio de Janeiro que apresentou resultados de pesquisa inédita realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Pernambuco. O estudo aponta, pela primeira vez, a implicação de outra espécie de mosquito, diferente do gênero Aedes, na transmissão de zika. “O vírus sai na saliva do Culex e é liberado. A gente vê que ele está totalmente formado com a partícula viral pronta para infectar futuras células”, explica a bióloga Constância Ayres Lopes, coordenadora do estudo. “Está comprovado que ele (Culex quinquefasciatus) transmite (zika). Não se sabe ainda qual é a capacidade vetorial dele”, complementa o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.

A capacidade vetorial, que é a habilidade de uma espécie de transmitir a infecção ao homem em condições naturais, depende da combinação de parâmetros como longevidade do mosquito, antropofilia (característica de uma espécie com tendência a se alimentar pelo homem) e endofilia (hábito de penetrar nas habitações humanas). “Precisamos agora investigar se, num processo de infecção, o número de picadas é importante. Acredita-se que, em relação à dengue, uma picada do Aedes seja o suficiente para infectar uma pessoa. E o Aedes, quando se alimenta, pica várias vezes. O Culex, em uma refeição, já se satisfaz”, ressalta Constância, ao frisar a importância de questionar se o fato de o Aedes picar mais vezes faz dele um vetor mais importante (no processo de transmissão das doenças).

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O achado da pesquisa requer mais investigações. “Vamos fazer cálculos matemáticos para estimar, no meio ambiente, quem é o vetor primário ou o secundário (do zika). Ou se os dois são importantes. Se já detectamos o Culex em campo infectado e sem estar recém-alimentado, significa que o vírus já está replicando dentro do mosquito”, explica a coordenadora do estudo. Na próxima etapa da pesquisa, também se vai investigar o número de picadas que uma muriçoca é capaz de realizar por noite – período em que ela mais age, diferentemente do Aedes, que tem hábitos diurnos.

A pesquisadora ainda pretende identificar a possibilidade de a fêmea do Culex passar o vírus para a prole (transmissão transovariana). “Isso tem uma implicação epidemiológica porque significaria uma forma de permanência do vírus na natureza através das populações de mosquito. Vamos investigar.”

Muriçoca transmite zika

A Fiocruz Pernambuco reforça que esses estudos adicionais serão necessários para avaliar o potencial da participação do Culex na disseminação do zika e seu real papel na epidemia. “Se conseguirmos confirmar uma importância epidemiológica do Culex na transmissão do zika, teria que ter uma mudança nas estratégias de combate ao vetor. Culex pica à noite e coloca ovos em água extremamente poluída”, esclarece a pesquisadora. Até novas evidências, segundo a Fiocruz, a política de controle da zika deve continuar com foco central no controle do Aedes.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que a evidência trazida pela pesquisa só reforça a necessidade do permanente engajamento da população, das entidades e do próprio poder público para acabar com os criadores dos mosquitos, seja Aedes ou Culex.