Variabilidade genética do parasita dificulta controle da malária, indica estudo

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 30/06/2016 às 15:39
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Imagem de criança fazendo exame (Foto: Alessandra Fratus / Reprodução) Consórcio internacional sequenciou o genoma completo de 182 amostras de Plasmodium vivax, espécie predominante da malária no continente americano. Resultados foram divulgados na Nature Genetics (Foto: Alessandra Fratus / Reprodução)

Da Agência Fapesp de notícias

O genoma completo de 182 amostras do parasita Plasmodium vivax – principal espécie causadora de malária no continente americano – foi sequenciado por pesquisadores do consórcio International Centers of Excellence for Malaria Research (ICEMR) – vinculado aos National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos. Entre os participantes da iniciativa está o brasileiro Marcelo Urbano Ferreira, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP).

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Os resultados foram divulgados no dia 27 de junho em artigo na revista Nature Genetics. Segundo Ferreira, eles confirmam achados anteriores que haviam indicado uma variabilidade genômica muito maior do que a observada na espécie P. falciparum, predominante no continente africano, que causa uma forma mais agressiva da doença.

Na avaliação do pesquisador, esse repertório mais amplo de variantes genéticas confere à espécie P. vivax maior capacidade de se adaptar ao meio em que vive – o que inclui aprender mais eficazmente a driblar as defesas do organismo hospedeiro e desenvolver resistência às drogas usadas no tratamento da doença. "É importante entender a plasticidade genômica do parasita, pois uma espécie com repertório de variantes genéticas grande e com capacidade de modificar esse repertório rapidamente é difícil de ser controlada. Parece ser o caso do P. vivax", disse Ferreira.

Até a publicação deste artigo, apenas cinco genomas completos de P. vivax haviam sido descritos em um trabalho anterior, também publicado na Nature Genetics em 2012. Já no caso do P. falciparum, de acordo com Ferreira, há mais de mil genomas completos descritos na literatura científica.

As 182 amostras analisadas neste novo estudo foram coletadas de pacientes oriundos de 11 países: Colômbia, México, Peru, Brasil, Papua-Nova Guiné, Mianmar, Tailândia, Coreia do Norte, Índia, Camboja e Madagascar. Segundo Ferreira, todas as áreas geográficas onde o P. vivax está presente foram contempladas. A força-tarefa foi coordenada por Jane M. Carlton, professora da New York University, nos Estados Unidos, e coordenadora de um centro de pesquisa na Índia ligado ao ICEMR. O consórcio é financiado pelo NIH por meio do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID).

Ferreira integra um centro do ICEMR dedicado a estudar a malária na região amazônica, tanto no Brasil como no Peru, sob a coordenação de Joseph M. Vinetz, professor da University of California, San Diego. O pesquisador brasileiro contribuiu com 20 amostras coletadas no município de Acrelândia (AC), na fronteira com a Bolívia, durante um projeto de pesquisa apoiado pela FAPESP.

Adaptação ao vetor

Uma das conclusões apresentadas no artigo é que há muito mais diversidade genética em uma população geograficamente restrita de P. vivax, a da Amazônia, por exemplo, do que na população global de P. falciparum. Essa variabilidade é medida pela quantidade de versões alternativas existentes para o mesmo gene (polimorfismos).

Na avaliação de Ferreira, tal fenômeno pode ter duas explicações: ou a taxa de mutação do P. vivax é maior que a do P. falciparum ou a espécie adaptou-se aos seres humanos há mais tempo e, portanto, acumulou ao longo dos anos de evolução um maior número de polimorfismos.

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