Melatonina: hormônio que regula o sono ganha cada vez mais adeptos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 21/06/2016 às 17:10
* Fonte: endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Infográfico: Guilherme Castro / NE10)
* Fonte: endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Infográfico: Guilherme Castro / NE10) FOTO: * Fonte: endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Infográfico: Guilherme Castro / NE10)

Imagem de mulher dormindo na cama (Foto: Free Images) Principais estudos indicam que a melatonina é responsável, entre outras funções, pela regulação do sono. No Brasil, versão sintética do hormônio ainda não foi liberada para comercialização (Foto: Free Images)

Por Malu Silveira

Se você tem algum problema com insônia ou pensa em mil formas de melhorar a qualidade do seu sono, provavelmente já ouviu falar da melatonina. Na verdade, essa substância é um hormônio produzido, principalmente, pela glândula pineal, localizada no cérebro, e secretado para o organismo após sua produção. Os principais estudos indicam que a melatonina é responsável, entre outras funções, pela regulação do sono. No Brasil, apesar de a comercialização ainda não ter sido liberada pela Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), sua versão sintética tem ganhado cada vez mais adeptos.

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Esse hormônio está presente em todos os seres vivos,  mas sua produção é diminuída com a presença de luz. Por isso, há a relação frequente da melatonina com ambientes escuros. "O sistema funcional neural que regula a síntese de melatonina é inibido pela luz. A luminosidade presente no meio ambiente à noite pode bloquear a síntese de melatonina pineal", explica o endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo o especialista, a substância pode tratar diversos problemas relacionados ao sono. "A melatonina tem seu uso estabelecido na clínica médica no tratamento de alguns distúrbios do sono, como insônia por fase retardada, ciclo vigília-sono com períodos diferentes de 24 horas, latência prolongada do sono, distúrbios comportamentais do sono REM, assim como na correção dos distúrbios causados pelo já conhecido jet-lag", acrescenta.

O publicitário Iuri Maia, 31 anos, acordava diversas vezes durante a noite e viu a qualidade do sono diminuir gradativamente. Ao procurar um especialista e fazer diversos exames, descobriu que tem apneia do sono. A indicação para uso da versão sintética da melatonina veio de um especialista que o acompanha. "Eu já conhecia a melatonina por amigos que moravam fora e tomavam a substância, mas nunca tive coragem de tomar por causa da Anvisa. Tinha medo de que fosse uma substância agressiva, já que não conhecia o princípio ativo. Com o resultado do exame, o médico sugeriu que eu começasse a tomar a melatonina", conta.

Com três semanas de uso, Iuri já sente diferença. "Meu maior problema é que eu acordava muito à noite e, às vezes, demorava para conseguir pegar no sono de novo. Agora, demoro de cinco a dez minutos para pegar no sono e quase não estou acordando no meio do noite. A qualidade do meu sono está muito melhor, inclusive quando acordo sinto a diferença. Não tenho mais aquele cansaço que sentia ao acordar", explica. Por enquanto, o publicitário compra a substância em um site que importa melatonina de outros países.

Já a antropóloga Fátima Brito, 57 anos, ouviu falar pela primeira vez na melatonina há quatro anos, quando passou por problemas de saúde e precisou consultar diversos médicos. Na época, uma homeopata, ao notar o estresse e a ansiedade da paciente, indicou a substância para ajudar na regulação do sono. "A médica sugeriu a melatonina para me ajudar a relaxar e dormir. Depois de um bom tempo, comecei a participar de algumas palestras e passei a entender um pouco mais sobre os efeitos positivos da substância e continuo a tomar até hoje", conta. As unidades são compradas através de uma irmã da antropóloga que mora nos Estados Unidos.

Apesar de seu uso ser principalmente ligado à regulação do sono, a substância pode ser responsável por outras diversas atividades no organismo. "A melatonina pode ser encontrada em todo o organismo. Ela tem alta capacidade de doar elétrons, o que lhe confere um alto potencial antioxidante. Esse hormônio é essencial para garantir uma organização cronobiológica saudável e rupturas dessa ordenação podem levar a distúrbios patológicos. Animais ou indivíduos que apresentam ausência ou redução da produção dessa substância podem desenvolver resistência insulínica, intolerância à glicose e outros problemas, como distúrbios do balanço energético e obesidade", frisa Mancini.

O médico acrescenta que, com o avanço nas pesquisas sobre o papel fisiológico da melatonina, o uso da substância e de seus análogos farmacológicos como agentes terapêuticos na clínica médica tem se expandido, mesmo em fase de experimentação clínica em muitos casos.

melatonina2 * Fonte: endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Infográfico: Guilherme Castro / NE10)

Segundo Mancini, a substância tem diversas apresentações na sua versão sintética. "A melatonina ainda não é comercializada no Brasil. Mas, nos Estados Unidos e na Europa, existem diversas apresentações, em formulações de liberação normal e de liberação lenta e em dosagens que variam em geral de 3 a 10 miligramas. Existem ainda análogos do receptor de melatonina, medicamentos que agem em seus receptores com efeitos diferenciais", pontua o endocrinologista.

NO BRASIL

De acordo com a Anvisa, em nota enviada pela assessoria de imprensa, não há nenhum medicamento registrado no País que tenha a melatonina como princípio ativo. Ainda segundo o órgão, não há, até o momento, solicitação de registro dessa substância como medicamento. Dessa forma, o hormônio sintetizado nunca foi avaliado pela agência em relação aos critérios de segurança e eficácia, o que impede a comercialização no Brasil.

A Anvisa ainda acrescenta, em nota, que a legislação garante que pacientes que recebam a indicação de uso do produto por um médico podem importar a melatonina, seja via bagagem de mão ao voltar de viagens internacionais ou em empresas estrangeiras pela internet. Vale ressaltar que as autoridades sanitárias estão autorizadas a solicitar a receita médica na entrada do produto no País. Por fim, o órgão destacou que o comércio virtual da melatonina ou em estabelecimentos físicos no Brasil é proibido porque o produto não tem registro e não porque a substância seja proibida pela Anvisa.

Vale ressaltar que, apesar de a substância ser comercializada livremente em outros países, inclusive sem a necessidade de prescrição médica no ato da compra, a automedicação nunca é recomendada. Ao notar qualquer sintoma diferente no cotidiano, a melhor opção é consultar um médico especialista.

Higiene do sono

O especialista ressalta que evitar alguns hábitos podem ajudar a melhorar a qualidade do nosso sono, combatendo a insônia. "Para uma boa higiene do sono, deve-se evitar alguns costumes, como horários variáveis de deitar e levantar, permanecer períodos frequentes e longos na cama sem dormir, uso rotineiro de produtos contendo álcool, tabaco ou cafeína antes de dormir e exercícios próximos da hora de deitar." É importante ficar atento também a colchões de má qualidade, cobertas inadequadas e quarto excessivamente iluminados e com temperaturas extremas.