Biolarvicida obtido do bagaço da cana mata larvas de Aedes aegypti

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 11/06/2016 às 11:30
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Imagem do produto desenvolvido por pesquisadores da USP (Foto: Divulgação) Produto desenvolvido por pesquisadores da USP interrompe ciclo de desenvolvimento do mosquito transmissor dos vírus da dengue, zika e chikungunha (Foto: Divulgação)

Da Agência Fapesp de notícias

Pesquisadores da Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo (EEL-USP) desenvolveram um biolarvicida a partir do bagaço da cana-de-açúcar capaz de eliminar as larvas do mosquito Aedes aegypti – transmissor dos vírus da dengue, Zika e chikungunha – ao dificultar a respiração e destruir a cutícula (exoesqueleto) que as revestem. O processo de produção do biolarvicida, que foi patenteado, resulta do projeto "Biossurfactantes como moléculas versáteis", feito com apoio da FAPESP, e do trabalho de doutorado de Paulo Franco, realizado na EEL-USP.

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“Constatamos que o produto é capaz de matar as larvas do mosquito Aedes aegypti em até 24 horas após ser diluído na água e destruí-las em até 48 horas”, disse Silvio Silvério da Silva, professor da EEL-USP e coordenador do projeto, à Agência FAPESP. De acordo com Silva, que orienta o doutorado de Franco na área de biotecnologia industrial, o produto é um surfactante – composto capaz de reduzir a tensão superficial (elasticidade da superfície) dos líquidos e emulsionar compostos com diferentes polaridades (eletronegatividade), como as polares e as apolares.

Utilizados largamente na indústria, principalmente em produtos de limpeza, como detergentes, por sua capacidade emulsionante – de unir substâncias que não se misturam, como a água e o óleo –, a maioria dos surfactantes encontrados hoje no mercado é derivada de petróleo e pode causar graves problemas no meio ambiente, principalmente em ecossistemas aquáticos, explicou Silva.

“Alguns estudos apontam que em ambientes com excesso de surfactantes nota-se acúmulo de espuma nos rios, diminuição de oxigênio dissolvido na água e da permeabilidade da luz. Além disso, esses compostos interferem em processos biológicos, como o ciclo do nitrogênio, e sua degradação pode aumentar as concentrações de compostos xenofóbicos [estranhos a um organismo ou sistema biológico] e causar a mortandade de organismos”, afirmou.

Ao tentar desenvolver uma alternativa de surfactante proveniente de uma fonte renovável e com toxicidade baixa ou nula, Silva e Franco conseguiram obter o produto a partir do bagaço da cana-de-açúcar, com as mesmas propriedades de um surfactante sintético, produzido por síntese química.

“Conseguimos obter o composto, que chamamos de surfactante ‘verde’ ou biossurfactante de segunda geração, a partir de leveduras que produzem a substância durante o processo de fermentação dos açúcares presentes no hidrolisado hemicelulósico do bagaço da cana”, afirmou Silva.

Testes com Aedes aegypti

Uma vez que o composto tem as mesmas propriedades dos surfactantes sintéticos de reduzir a tensão superficial dos líquidos e emulsionar substâncias com diferentes polaridades, os pesquisadores tiveram a ideia de testar sua aplicação no combate ao mosquito Aedes aegypti.

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