Depressão também atinge populações da Amazônia, aponta estudo

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/05/2016 às 14:00
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Imagem de índios em rio (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil) Fatores de risco associados ao transtorno depressivo na população do estudo foram, principalmente, baixos níveis de escolaridade e renda, uso de álcool (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

Da Agência USP de notícias

É comum associarmos a depressão com cotidiano das grandes cidades. Violência, estresse, trânsito intenso e modo de vida acelerado, entre outros motivos, quase sempre são apontados como possíveis causas desse transtorno mental. Mas, um estudo realizado pela professora e enfermeira Edinilza Ribeiro dos Santos nas cidades de Coari e Tefé, no interior do estado do Amazonas, mostra que 1 em cada 5 habitantes, com 20 anos de idade ou mais, tem depressão. Os fatores de risco associados ao transtorno depressivo na população do estudo foram: baixos níveis de escolaridade e renda, uso de álcool, ausência ou pouco apoio social de familiares e amigos, estresse e ter outras doenças físicas. Os resultados da pesquisa foram publicados em um artigo na revista PLOS ONE, em sua edição de março.

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“Realizamos um estudo de prevalência nos dois municípios e constatamos que os fatores de risco para transtorno depressivo são semelhantes aos observados em estudos prévios realizados em grandes centros urbanos”, conta a pesquisadora, que é docente na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Ao todo, foram entrevistadas 1.631 pessoas residentes nas duas cidades. Essas entrevistas foram realizadas por dez profissionais previamente capacitados, durante cerca de um ano, entre 2013 e 2014.

Segundo a pesquisadora, não havia na literatura, à época do início desta pesquisa, estudos que mostrassem estatísticas de depressão na região norte do País. Em sua tese de doutorado Prevalência de episódio de depressão maior em áreas de abrangência da estratégia saúde da família em dois municípios do Amazonas, defendida no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina (FM) da USP, Edinilza mostra que quase 100% da população das duas cidades são cadastradas nos serviços de atenção básica à saúde das duas cidades e foi a partir desses registros que as pessoas foram convidadas a participar da pesquisa. “Esse aspecto facilitou nosso trabalho e os entrevistados foram selecionados por meio de um sorteio”, conta, lembrando que o objetivo de seu estudo foi “quantificar os casos de depressão”.

Entre as pessoas mais atingidas pela depressão estão as mulheres e os mais jovens. A prevalência mais alta de depressão em mulheres é observada em outras localidades dentro e fora do Brasil, já em relação à idade não há linearidade entre os resultados dos estudos realizados em diferentes lugares, mostrando que outros fatores podem influenciar, para mais ou para menos, a ocorrência de depressão segundo grupos etários “Talvez na população da minha pesquisa os mais jovens sejam mais pré-dispostos aos transtornos depressivos devido ao alto desemprego na região e a consequente falta de perspectiva. Além disso, a violência tem crescido na nossa região”, diz.

Em termos percentuais, a pesquisa mostra que a prevalência de sintomas que indicam a presença da depressão foi de 19%. “Um estudo nacional de amostra por domicílio mostrou que a prevalência entre pessoas de 14 anos ou mais atingiu 15%”, ressalta. Edinilza teve a orientação do professor Paulo Rossi Menezes, médico psiquiatra e epidemiologista, da FM e da pesquisadora Marcia Scazufca do Instituto de Psiquiatria (IPq) do HCFMUSP.

Rezar ou beber

Durante sua pesquisa, Edinilza ao dialogar com um jovem sobre possibilidades de lazer ouviu a seguinte frase: “aqui só temos duas alternativas, rezar ou beber”. Na opinião da pesquisadora, a declaração chama a atenção para a ausência de opções de lazer nos dois municípios. “As opções de diversão ficam por conta das eventuais festas folclóricas e áreas de banho naturais, visto que as cidades estão localizadas no curso do rio Solimões e banhadas por afluentes e igarapés do grande rio”, lembra a enfermeira.

Confira a matéria completa no site da Agência USP de notícias.