Estudo revela que analgésicos podem aumentar em até 80% risco de arritmia cardíaca

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 30/04/2016 às 13:00
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medicamentos-600 Especilista alerta para o consumo em excesso dos analgésicos, vendidos livremente no Brasil. Isso faz com que algumas pessoas abusem da medicação ou a utilizem sem estar realmente precisando (Foto ilustrativa: Free Images)

Um estudo realizado com mais de 8 mil pacientes na Erasmus University Medical Center in Rotterdam, na Holanda, revelou aumento de até 80% no risco de fibrilação atrial, o tipo mais comum de arritmia cardíaca, para casos de uso contínuo de analgésicos. A pesquisa foi publicada no BMJ Open, importante publicação científica internacional. Para realizar o estudo, os pesquisadores acompanharam por 13 anos 8.423 pacientes com idade média de 69 anos. Foram controlados fatores de risco como pressão arterial, colesterol e tabagismo, entre outros fatores de risco cardiovascular, e ainda assim o risco aumentado continuou sendo registrado em associação ao uso de analgésicos.

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A causa precisa da relação entre arritmias e uso de analgésicos ainda permanece incerta, mas os pesquisadores supõem que efeitos como retenção de fluídos e aumento da pressão arterial possam ser os responsáveis. Ambas as reações adversas das medicações têm comprovada influência no funcionamento cardíaco. “Os analgésicos são medicações muito importantes e seguras, desde que ministradas de forma responsável e com indicação médica. Problemas ocorrem quando seu uso é indiscriminado e abusivo”, alerta o cardiologista Enrique Pachón, coordenador do Serviço de Arritmias Cardíacas do HCor.

Atualmente, a fibrilação atrial atinge 2,5% da população mundial e, conforme a idade avança, o problema pode afetar até 10% das pessoas com idade a partir de 70 anos, faixa etária em que mais se usam os anti-inflamatórios.

Morte súbita

As arritmias cardíacas estão diretamente relacionadas ao risco de morte súbita. Porém, é preciso diferenciar as arritmias benignas das malignas. As primeiras geralmente provocam sintomas desagradáveis como palpitações, mas não colocam o paciente sob risco de vida. Já as malignas podem levar o paciente à morte rapidamente.

As arritmias podem passar despercebidas por não gerarem sintomas em muitos pacientes, enquanto outros pacientes podem ficar extremamente incomodados mesmo com arritmias de baixo risco. Todas as arritmias têm tratamento, por isso o diagnóstico precoce é tão importante para evitar suas consequências. Identificar as arritmias é muito importante e muito fácil. Para tal, a medida do pulso cardíaco, que pode ser realizada facilmente por qualquer pessoa, traz importantes dados sobre o tipo de arritmia.

“Quando o coração bate rápido, acima de 100 batimentos por minuto no repouso, chamamos de taquicardia. Ao contrário, quando bate abaixo de 50 batimentos por minuto é a bradicardia e ainda há os casos onde o coração bate de forma irregular, alternando batimentos rápidos com falhas ou batimentos lentos, que chamamos de fibrilação atrial”, explica Pachón.

O risco estimado de morte súbita entre pessoas com idade até 35 anos é de 0,75 a cada 100 mil homens e de apenas 0,13 a cada 100 mil mulheres, o que representa um risco reduzido. Acima dessa idade, o número se iguala entre homens e mulheres, com seis mortes a cada 100 mil pessoas.

Palpitações, desmaios e tonturas são os sintomas mais frequentes relacionados a arritmias e/ou problemas cardíacos e que devem servir de alerta caso venham a ocorrer. Pode haver também confusão mental, fraqueza, pressão baixa e dor no peito. “Contudo, muitos casos de arritmia são assintomáticos e, como toda doença silenciosa, isso aumenta o seu risco. Nos casos graves, o primeiro sintoma da arritmia é a parada cardíaca, que pode ser fatal”, alerta.

“É importante salientar que a arritmia mais frequente relatada nesse estudo foi a fibrilação atrial e que esta arritmia isoladamente tem baixo risco de mortalidade apesar de ser muito incômoda, mas o risco aumenta exponencialmente quando o paciente tem outras patologias associadas como a doença coronariana (infarto), hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca e a presença de outras arritmias mais complexas”, finaliza o especialista.