Microcefalia: exames detectam cálcio em lesões cerebrais de bebês com a malformação

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 18/04/2016 às 11:07
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Imagem de mulher segurando bebê com microcefalia (Foto: Diego Nigro / JC Imagem) Estudo mostra que todos os bebês com microcefalia têm múltiplas cicatrizes graves em que o cálcio se depositou, em uma localização preferencial do cérebro: a junção entre a cortical e a substância branca subcortical (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Um artigo científico inédito de pesquisadores pernambucanos, publicado recentemente pelo British Medical Journal (BMJ), um dos mais importantes periódicos internacionais da área, revela que todos os bebês com microcefalia analisados tinham pequenas e múltiplas cicatrizes graves nas quais o cálcio se depositou, em uma localização preferencial do cérebro (na junção entre a cortical e a substância branca subcortical). A calcificação nesse local é menos frequente quando a microcefalia não é relacionada ao zika vírus. Além disso, foram observadas múltiplas malformações nos mais comprometidos provavelmente pela infecção durante a gestação. O cérebro dos mais graves parece que havia parado de desenvolver, tendo um padrão bem simplificado.

A primeira autora é a neurorradiologista Maria de Fátima Vasco Aragão, professora do Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau). O trabalho analisa exames de tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) de bebês com microcefalia cujas mães possivelmente contraíram o vírus zika na gravidez. A equipe fez comparações entre as lesões no cérebro deles e o que está descrito em estudos sobre as alterações encontradas em microcefalia causada por outros tipos de infecções congênitas.

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Nascidos entre julho e dezembro de 2015, os 23 bebês avaliados são atendidos pela unidade da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) no Recife, que fica sob a diretoria clínica da médica Vanessa Van Der Linden, segunda autora da pesquisa.

A publicação na BMJ reforça a importância do levantamento de indícios feito por Maria de Fátima Vasco Aragão com Vanessa Van Der Linden, junto de Alessandra Mertens Brainer-Lima, também docente da Uninassau, e de pesquisadores vinculados à AACD, Instituto de Medicina Integral Professor Fernandes Figueira (Imip), Universidade de Pernambuco (UPE) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

É um marco, mas ainda há muito que averiguar. “Nenhuma mãe do nosso estudo teve erupção no final da gravidez. Assim, podemos supor que, provavelmente, nesta doença (zika), também, quanto mais cedo a infecção durante a gravidez, mais graves as lesões cerebrais e a microcefalia. No entanto, nosso estudo tem apenas uma pequena amostra (23 crianças)”, diz Maria de Fátima, exemplificando um dos pontos que devem ser visados por outros trabalhos.