Cérebro induz à escolha de alimentos calóricos para armazenar energia

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 13/02/2016 às 9:00
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Imagem de doces (Foto: Wikimedia) Estudo explica o porquê de alguns vertebrados escolheres comer algo com sabor desagradável, mas calórico, ao invés de escolher um alimento mais palatável, porém sem calorias (Foto: Wikimedia)

Da Agência Fapesp de Notícias

A sensação de prazer proporcionada pelo consumo de um doce e o valor calórico desse tipo de alimento evocam vias diferentes do cérebro. Por isso, ao ter que escolher entre comer algo com sabor desagradável, mas calórico, e um alimento mais palatável, porém sem calorias, alguns animais vertebrados podem fazer a primeira escolha, priorizando energia para assegurar sua sobrevivência.

A constatação é de um estudo realizado por pesquisadores da Yale University, nos Estados Unidos, em colaboração com colegas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e do Centro de Matemática, Computação e Cognição da Universidade Federal do ABC (CMCC-UFABC).

O estudo, publicado na edição on-line da revista Nature Neuroscience e destacado pelo jornal inglês The Telegraph, teve participação de Tatiana Lima Ferreira, pesquisadora do CMCC-UFABC. A pesquisadora obteve uma Bolsa no Exterior da FAPESP para realizar pesquisa de pós-doutorado em Yale, no laboratório coordenado pelo brasileiro Ivan Eid Tavares de Araújo, responsável pelo estudo.

“Observamos que há diferentes circuitos neuronais em uma mesma região cerebral envolvidos na percepção da sensação de prazer proporcionada pela ingestão de um alimento doce que são diferentes, por exemplo, daqueles que codificam a caloria desses alimentos”, disse Ferreira à Agência FAPESP.

Por meio de uma série de experimentos com camundongos, os pesquisadores identificaram que a sensação de prazer da ingestão e o valor calórico e nutricional dos alimentos evocam circuitos neuronais do estriado – uma região do sistema subcortical, no interior do cérebro, pertencente aos gânglios de base.

Os circuitos neuronais dessa região do cérebro envolvidos na percepção dessas duas características, contudo, são distintos.

Enquanto os circuitos neuronais da parte ventral do estriado são os responsáveis pela percepção da sensação de prazer (hedonia) proporcionada pelo sabor doce, os neurônios da parte dorsal são encarregados de reconhecer o valor calórico e nutricional dos alimentos adocicados.

“Estudos anteriores do grupo de pesquisadores em Yale com o qual eu colaboro já haviam relatado que circuitos do estriado e os neurônios dopaminérgicos [que produzem o neurotransmissor dopamina, associado ao prazer e à recompensa] que enervam essa região cerebral poderiam estar envolvidos com o reconhecimento dessas características dos alimentos: a do valor nutricional e o gustativo”, disse Ferreira.

“Mas ainda não se sabia se os circuitos da parte dorsal e os do lado ventral do estriado estariam ou não envolvidos igualmente na percepção dessas duas características”, ponderou.

Circuitos distintos

A fim de identificar quais circuitos neuronais do estriado estão envolvidos na percepção específica desses atributos dos alimentos, os pesquisadores realizaram um experimento para quantificar a liberação de dopamina na região do estriado de camundongos após serem expostos a substâncias doce com e sem caloria.

Para isso, os animais lambiam o bico de um bebedouro com adoçante e recebiam doses de soluções contendo açúcar (D-glicose) ou um adoçante também não calórico (sucralose), injetadas diretamente no estômago.

Os resultados do experimento indicaram que houve um aumento da liberação de dopamina no estriado ventral durante a ingestão do adoçante independentemente de qual solução estava sendo administrada no sistema digestivo dos animais – se era açúcar ou adoçante.

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