Elo entre microcefalia e zika cada vez mais forte

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 04/02/2016 às 14:04
microcefalia destaque FOTO:

Entre os 153 bebês com o diagnóstico de microcefalia confirmado em Pernambuco, 12 foram submetidos a um novo exame e todos apresentaram existência do anticorpo IgM para zika no líquido cefalorraquidiano (Foto: Diego Nigro/JC Imagem) Entre os 153 bebês com o diagnóstico de microcefalia confirmado em Pernambuco, 12 foram submetidos a um novo exame e todos apresentaram existência do anticorpo IgM para zika no líquido cefalorraquidiano (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Pouco mais de dois meses após o Ministério da Saúde confirmar a relação entre o zika e a microcefalia com a identificação da presença do vírus em amostras de sangue e tecidos em um bebê nascido no Ceará apresentando a malformação, Pernambuco ratifica essa associação ao informar que, entre os 153 bebês com o diagnóstico de microcefalia confirmado no Estado, 12 foram submetidos a um novo exame e todos apresentaram existência do anticorpo IgM para zika no líquido cefalorraquidiano (LCR), aquele que circula na medula e vai até o cérebro.

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“É um achado sugestivo de que o vírus se replicou no sistema nervoso central. É uma resposta de infecção recente”, explica a virologista Marli Tenório Cordeiro, pesquisadora do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fiocruz Pernambuco. Ela acrescenta que a instituição já começou a testar outras 28 amostras do LCR.

A confirmação dos 12 casos de microcefalia relacionados à zika foi divulgada, na quarta-feira (3), pela Secretaria Estadual de Saúde, que também apresentou boletim revelando como tem sido acelerado o avanço das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti (dengue, chicungunha e zika). A identificação da presença do zika em bebês com microcefalia nascidos em Pernambuco foi possível porque o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) disponibilizou reagentes para os testes. “Três pesquisadores do laboratório de Fort Collins, nos Estados Unidos, estiveram no Instituto Evandro Chagas, em Belém, de 17 a 22 deste mês, passaram as técnicas usadas no CDC e disponibilizaram alguns reagentes. Com eles, testamos os LCRs”, informa Marli.

A secretária-executiva de Vigilância em Saúde de Pernambuco, Luciana Albuquerque, lembra que a técnica diagnóstica disponível hoje para investigar zika é o PCR (biologia molecular). Mas todos esses exames feitos até hoje, nos bebês que foram notificados, tinham dado negativo para zika. “Era de se esperar porque o PCR só capta infecção recente. Com a sorologia disponibilizada pelo CDC, conseguiu-se achar o vírus em todos os 12 recém-nascidos em que foi feita a coleta de LCR. É uma evidência bastante importante, que nos leva a acreditar na relação da zika com a microcefalia”, frisa Luciana.

A secretária lembra que já estão sendo desenvolvidos estudos científicos para confirmar de forma categórica essa associação. “Os novos achados são um forte indício de que a microcefalia pode ter como agente causal o vírus zika”, completa Marli.

Confira abaixo entrevista do médico Carlos Brito antes de o Ministério da Saúde confirmar, no dia 28 de novembro de 2015, a relação entre zika e microcefalia.