Estudo evidencia relação entre doenças mentais e metabólicas

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 03/02/2016 às 14:11
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Imagem de homem triste (Foto: Photl.com) Estudos têm mostrado que doenças psiquiátricas estão frequentemente associadas a distúrbios metabólicos como obesidade (Foto: Photl.com)

Da Agência Fapesp de notícias

Estudos recentes têm mostrado que doenças psiquiátricas – entre elas o transtorno bipolar e a depressão – estão frequentemente associadas a distúrbios metabólicos como diabetes do tipo 2, dislipidemia e obesidade. As evidências científicas sugerem ainda que tanto a condição psiquiátrica pode influenciar na evolução do quadro metabólico como o contrário também comumente acontece.

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Essa correlação foi observada por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em um trabalho recentemente publicado no Journal of Psychiatric Research. Os dados do estudo feito com 59 portadores de transtorno bipolar apontaram que os pacientes com níveis considerados baixos de adiponectina – hormônio produzido pelo tecido adiposo que ajuda a regular o metabolismo de glicose e de lipídeos – apresentavam um quadro psiquiátrico mais grave do que aqueles com níveis mais altos dessa proteína.

“No histórico desses pacientes com baixa adiponectina, observamos maior frequência de episódios de humor alterado, maior número de internações psiquiátricas, persistência de sintomas depressivos e pior funcionamento psicossocial. Eles também tinham mais distúrbios metabólicos, como intolerância à glicose, diabetes e dislipidemias”, contou a professora da Escola Paulista de Medicina Elisa Brietzke, coordenadora do projeto apoiado pela FAPESP.

Se os achados forem confirmados por estudos futuros, avaliou Brietzke, a dosagem de adiponectina no sangue de pacientes com transtorno bipolar poderá funcionar como um biomarcador auxiliar no prognóstico e no tratamento – sendo que níveis baixos desse hormônio seriam um indicativo de uma doença mais grave tanto do ponto de vista psiquiátrico quanto metabólico.

Além disso, segundo a pesquisadora, os resultados abrem caminho para novos estudos voltados a testar intervenções que modulem os níveis de adiponectina nos pacientes bipolares.

A pesquisa foi realizada na Unifesp durante o doutorado de Rodrigo Mansur, atualmente fellow da Universidade de Toronto, no Canadá. O objetivo inicial foi comparar em voluntários sadios e em portadores de transtorno bipolar os níveis sanguíneos de adiponectina e de leptina – outro hormônio secretado pelo tecido adiposo com importante papel na regulação metabólica e no controle do apetite.

“Esses hormônios agem tanto de forma local como sistêmica. Receptores dessas moléculas são expressos em múltiplas regiões cerebrais e a ativação deles produz efeitos fisiológicos relevantes. Ambos parecem fazer parte do controle da resposta inflamatória. Alterações na produção desses hormônios têm sido descritas em doenças metabólicas, como obesidade e diabetes tipo 2. Nossa linha de pesquisa foca na interface entre transtornos mentais e doenças metabólicas, portanto, temos interesse particular em mediadores, mecanismos e sistemas que conectam o cérebro e a periferia”, explicou Mansur.

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