Microcefalia e saúde ocular: Fundação Altino Ventura atinge marca de 135 bebês atendidos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 12/01/2016 às 12:48
microcefalia-destaque FOTO:

Imagem da barra do combate ao mosquito

Quando se excluem doenças já conhecidas que podem causar alterações oculares, especialistas afirmam que se preenchem critérios do Ministério da Saúde e que as lesões são provavelmente por zika (Foto: Diego Nigro/JC Imagem) Quando se excluem doenças já conhecidas que podem causar lesões oculares, especialistas afirmam que se preenchem critérios do Ministério da Saúde e que as alterações são provavelmente por zika (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Com a terceira avaliação oftalmológica oferecida, na segunda-feira (11), aos bebês com suspeita e diagnóstico confirmado de microcefalia, a Fundação Altino Ventura (FAV) chega à marca de 135 crianças examinadas. Paralelamente ao mutirão, realizado no Centro Especializado de Reabilitação (CER) Menina dos Olhos da FAV, no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, foram iniciadas as primeiras atividades de reabilitação e estimulação visuais dos bebês. Durante o primeiro atendimento oferecido em dezembro, os oftalmologistas perceberam que lesões oculares estão presentes em um grupo de 30% a 40% entre as 40 crianças com a anomalia decorrente de provável infecção pelo zika vírus na gravidez.

“Percebemos que parte desses bebês tem alteração na retina e no nervo óptico. Eles precisam de acompanhamento e cuidados para desenvolverem a visão de forma adequada”, diz a oftalmologista Camila Ventura, da FAV. Ela é uma das autoras do estudo Zika vírus no Brasil e atrofia macular em uma criança com microcefalia, publicado, no último dia 7, na revista científica The Lancet. “Nesse estudo, relatamos as lesões oculares em três bebês com microcefalia possivelmente causada pelo zika. Eles apresentaram alteração pigmentar da mácula, área central da visão. Quando examinamos o fundo de olho, vimos que essas lesões são diferentes das que aparecem em outras infecções congênitas.”

O estudo mostra que as três mães e seus filhos passaram por exames de toxoplasmose, citomegalovírus, herpes, sífilis e HIV. Os testes deram negativo. “Quando se excluem essas doenças já conhecidas que podem causar alterações oculares, afirmamos que se preenchem os critérios do Ministério da Saúde e que as lesões são provavelmente por zika”, esclarece Camila. Ela ressalta que, embora seja percebido o comprometimento da visão em parte dos bebês com microcefalia avaliados pela FAV, ainda não se sabe a intensidade dessas lesões. “O certo é que as crianças precisam de estimulação visual precoce.”

Ontem começou o atendimento de reabilitação, do qual participaram 22 bebês. “Vamos precisar trabalhar com fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e toda uma equipe especializada. O CER tem infraestrutura e profissionais para realizar esse trabalho. Esperamos que a FAV seja convidada para trabalhar com esses pacientes na rede. Não podemos ficar de braços cruzados”, salienta a oftalmopediatra Liana Ventura, presidente da instituição.

Convidada pelo Ministério da Saúde para elaborar um protocolo de rotinas de exame, estimulação precoce e reabilitação, a FAV tem acompanhado os bebês com microcefalia avaliados nos mutirões, inclusive aqueles cujos exames não apresentam alteração visual. Os oftalmologistas consideram que eles têm risco para desenvolver problemas oculares ao longo da infância. O ideal é que, no mínimo, passem por estimulação visual.