Pais separados: vontade dos filhos deve prevalecer nas festas de fim de ano

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 29/12/2015 às 16:05
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Imagem de criança com vestido branco na praia (Foto ilustrativa: Free Images) Pais separados devem tentar chegar a um acordo sobre quem fica com os filhos nas festas de fim de ano. Consenso pode evitar traumas nas crianças (Foto ilustrativa: Free Images)

Nestes últimos dias, a cantora Madonna conseguiu na Justiça norte-americana o direito de passar o Natal e o Ano Novo com o filho Rocco, de 15 anos, fruto do relacionamento da artista com o cineasta Guy Ritchie. Segundo noticiou a imprensa do país, a ação foi movida porque o adolescente teria manifestado o interesse de passar as festividades com o pai, que mora em Londres. A situação, no mínimo constrangedora, com a rainha do pop traz à tona um cenário já conhecido por pais separados: Quem deve ficar com os filhos nas festas de fim de ano e outros momentos importantes?

Para a advogada especialista em direito de família Juliana Wallach, sócia-gestora da área de família da Queiroz Cavalcanti Advocacia, dispensar o acordo informal e levar o impasse à Justiça pode gerar um desgaste desnecessário. "Se os pais levam a questão para o Judiciário, a Justiça divide da seguinte forma: se um ano o pai passa o Natal com o filho, no outro ano o menor passa o Ano Novo. E quando eles deixam para resolver a situação neste período é ainda pior, pois o judiciário está fechado e fica apenas um juiz de plantão. Alguns casos terminam sendo muito traumáticos para a criança", diz. "Já, quando há um consenso entre os pais, sem intervenção da Justiça, é muito mais interessante para ambos, pois eles podem decidir e se organizar da melhor maneira", complementa a especialista.

É difícil ter que abrir mão da presença dos filhos em momentos festivos e tão importantes para o entrosamento familiar, principalmente quando a dor do rompimento ainda é difícil de lidar para um dos genitores. Mas é justamente nessas horas que a vontade da criança deve falar mais alto. "Os pais devem focar na ideia de que há de se pensar primeiro nos filhos e na felicidade dos filhos. O ideal é que cheguem a um consenso, tentando conversar nem que seja por email ou mensagem. Ambos com a consciência de que vai ter Natal e Ano Novo outras vezes, então há sempre a possibilidade de trocar. Cada um tem que tentar ceder um pouco, como em qualquer relacionamento nas nossas vidas", ressalta a advogada.

Alienação parental

Síndrome da Alienação Parental (SAP) é um termo proposto em 1985 pelo psiquiatra norte-americano Richard Gardner como o termo que explica a situação em que o pai ou a mãe da criança a treina para romper laços afetivos com o outro genitor. Na maioria das vezes, esses casos acontecem quando a ruptura entre os pais é muito conflituosa e uma dos dois não consegue digerir bem o luto da separação, utilizando o filho como instrumento de vingança contra o antigo parceiro. Em 26 de agosto de 2010 foi sancionada no Brasil a Lei da Alienação Parental, 12.318, que prevê medidas desde multa até acompanhamento psicológico da criança que está sendo alienada pelos pais, podendo até resultar na perda da guarda do pequeno quando a alienação parental for comprovada.

Muitos pais não param pra pensar que esses hábitos podem causar sérios traumas na criança. "Quando há essa disputa, a criança pode ficar ansiosa ou insegura em relação ao afeto dos pais, além de esse trauma poder refletir nas futuras relações afetivas do pequeno", alerta a psicóloga Cláudia Queiroz. Barrar a convivência do filho com um dos genitores pode prejudicar o desenvolvimento emocional da criança. "Pai e mãe são referências na vida de qualquer pessoa. É importante preservar a convivência do filho com a mãe e com o pai. A vontade da criança, na posição de ser em formação, também deve ser respeitada. Os pais têm que preservar a saúde mental da criança, por mais difícil que seja o relacionamento entre eles", explica.

Por isso, é preciso levar em consideração o que a criança tem a dizer sobre os momentos nos quais ela passará na companhia de cada um dos genitores. "Os filhos devem ser prioridade nesse momento. Os pais têm que ver o desejo deles na hora que os pequenos já têm condição de escolher. A partir do momento que eles podem escolher, que os pais deixem eles fazerem essa escolha. Que eles fiquem no lugar que eles desejam ficar. E isso não quer dizer que eles gostem mais de um ou de outro", finaliza a psicóloga.