Pesquisadores estudam novos alvos para o tratamento da esquizofrenia

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 19/12/2015 às 10:00
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Imagem: Wikimedia Commons Em artigo publicado, pesquisadores da Unicamp descrevem proteínas relacionadas à resposta aos antipsicóticos usados no tratamento da esquizofrenia (Imagem: Wikimedia Commons)

Da Agência Fapesp de notícias

Ao avaliar amostras de sangue de portadores de esquizofrenia antes e depois do tratamento com antipsicóticos, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificaram um conjunto de proteínas que é modulado de forma diferente pelas drogas nos pacientes que respondem à terapia em comparação aos que não respondem. Segundo os autores, essas moléculas diferencialmente expressas nos dois grupos de pacientes representam potenciais alvos a serem explorados na busca de novos fármacos contra a doença. A relação completa das proteínas foi divulgada em artigo publicado na revista npj Schizophrenia, pertencente ao Grupo Nature.

“Após validarmos estes achados em um maior número de pacientes, poderemos pensar em criar um teste que permita prever, antes mesmo do início do tratamento, se o paciente vai ou não responder a um determinado fármaco”, afirmou Daniel Martins-de-Souza, coordenador da pesquisa apoiada pela FAPESP.

De acordo com o professor da Unicamp, tanto o diagnóstico da esquizofrenia quanto seu tratamento, que é centrado na administração de antipsicóticos, são atualmente baseados apenas nos dados clínicos do paciente e na experiência do psiquiatra. Cerca de 40% dos portadores do transtorno não respondem a uma primeira tentativa terapêutica e 60% acabam abandonando o medicamento por causa de efeitos colaterais.

“Hoje, é preciso aguardar seis semanas para saber se o fármaco está ou não fazendo efeito. Quando não há melhora, o médico precisa decidir, somente com base em sua experiência, se aumenta a dose ou troca a medicação. Não há biomarcadores que possam auxiliar nesse processo de decisão e é nisso que estamos trabalhando”, comentou.

O estudo teve início quando Martins-de-Souza atuava como investigador principal no Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia da Universidade de Munique Ludwig Maximilians, na Alemanha, mas as análises foram feitas quando já estava de volta ao Brasil, como professor da Unicamp.

Foram coletadas amostras de sangue de 58 pacientes alemães submetidos ao tratamento com três diferentes antipsicóticos: olanzapina (18 voluntários), quetiapina (14) e risperidona (26). Esta última foi incluída no rol do Sistema Único de Saúde (SUS) em 2014. “Esses três medicamentos pertencem à classe dos antipsicóticos atípicos ou de segunda geração, que costuma ter uma ação mais abrangente que as drogas típicas ou de primeira geração”, disse Martins-de-Souza.

Segundo o pesquisador, enquanto as drogas de primeira geração agem principalmente sobre os receptores do neurotransmissor dopamina e amenizam os chamados sintomas produtivos (delírios e alucinações) da doença, os medicamentos de segunda geração agem também sobre outros receptores, entre eles os glutamatérgicos, diminuindo também os sintomas negativos (apatia, desânimo, isolamento e problemas cognitivos).

Na amostra avaliada, metade dos pacientes nunca havia tomado nenhuma droga antipsicótica anteriormente (drug naive). Os demais estavam pelo menos há seis semanas sem tomar nenhuma medicação (drug free).

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