Mães de bebês com microcefalia precisam de apoio psicossocial

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/12/2015 às 14:31
microcefalia-mae-bebe-235 FOTO:

Imagem de personagem (Foto: Diego Nigro / JC Imagem) "Minha mãe tem me apoiado muito. Se for confirmado que ele realmente tem microcefalia, nada muda", diz Jéssica Sales, mãe de Lucas (Foto: Diego Nigro / JC Imagem)

A rede de suporte psicológico para as mães de bebês com microcefalia precisa se reestruturar o quanto antes, assim como as unidades destinadas para a reabilitação dessas crianças. Por enquanto, não há atendimento psicossocial específico para essas famílias, que geralmente ficam abaladas pela discrepância entre o filho idealizado e o real. “Quando as mulheres vivenciam isso logo após o nascimento do filho, num momento em que estão afetadas emocionalmente pelas alterações hormonais do pós-parto, é aceitável que muitas tenham dificuldade para lidar com a situação de adversidade”, explica o psiquiatra Amaury Cantilino, membro da Comissão de Pesquisas da Saúde da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Leia mais:

» Pernambuco confirma 251 bebês com microcefalia entre 804 casos suspeitos

» Confira as diferenças entre as doenças causadas pelo Aedes aegypti

» Estudo indica que Zika vírus está cada vez mais eficiente para infectar humanos

O médico reforça que é preciso as unidades de saúde se mobilizarem para acolher essas mães. Atualmente a rede municipal passa por um processo de reestruturação para fornecer um suporte psicológico para as gestantes com ultrassom indicativo de microcefalia. No pós-parto, o acolhimento deve ser continuado. “Essas mães precisam lidar com uma nova dinâmica familiar. Pode aparecer insegurança na forma de cuidar do bebê. Isso aumenta o estresse, e as mulheres ficam sujeitas a desenvolver quadros de ansiedade”, reforça Amaury.

O médico chama atenção ainda para a necessidade de a família olhar para a dupla mãe e bebê. “Quando o companheiro e outras pessoas ajudam nesse cuidado, a mãe percebe que não está sozinha. E quando são oferecidas terapias de reabilitação à criança, bate um alento. São detalhes importantes para se superar uma adversidade.”

A dona de casa Jéssica Sales, 18 anos, tem recebido apoio da mãe para cuidar do filho Lucas, 1 mês e 9 dias, que nasceu com suspeita de microcefalia. “Não esperava receber essa notícia. Minha mãe é que tem me tranquilizado muito. Agora, se for confirmado que ele realmente tem microcefalia, nada muda. O amor vai ser o mesmo”, conta Jéssica, que levou ontem Lucas ao Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), onde o bebê iniciou um acompanhamento.

Diariamente, o Huoc tem recebido uma média de 15 bebês com suspeitas da anomalia congênita. “É uma situação de muita angústia para mães de qualquer classe social. Elas ficam angustiadas para saber as limitações que os filhos podem ter. A rede de atenção à saúde precisa mesmo se reestruturar. Isso está sendo feito aos poucos, com a descentralização dos atendimentos”, diz a chefe do Setor de Infectologia Pediátrica do Huoc, Ângela Rocha. Ela tem observado a formação de grupos de autoajuda no hospital, enquanto as mães aguardam atendimento. “É uma ocasião em que compartilham experiências, incertezas e angústias. De certa forma, esse momento de desabafo ajuda as famílias”, conclui a médica.