Pesquisa aponta relação entre consumo de álcool e desenvolvimento de câncer

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/12/2015 às 14:00
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Imagem de garrafas de vinho (Foto: Free Images) Estudo discute presença simultânea ou não do tabagismo com consumo moderado de álcool e as diferenças entre homens e mulheres, alertando especialmente para aumento do risco de câncer de mama nas mulheres (Foto: Free Images)

O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) analisou um estudo americano publicado pelo British Medical Journal (BMJ) que avaliou as associações entre o risco para o desenvolvimento de câncer com os níveis de consumo moderado de álcool. O levantamento considerou as diferenças entre homens e mulheres, além de comparar pessoas que nunca fumaram com aqueles que fumam ou já fumaram. Em linhas gerais, com relação ao consumo moderado de álcool foi encontrada uma tendência de discreto aumento na probabilidade do surgimento de câncer, que ocorre com níveis de consumo menores entre mulheres. Além disso, o estudo evidencia que o tabagismo atua como fator de risco bem mais intenso do que o consumo de álcool no que se refere à ocorrência da doença.

A análise dos dados se baseou em materiais de dois grandes grupos com mais de 88 mil mulheres e 47 mil homens que foram acompanhados por mais de 30 anos. Em geral, quanto maior a quantidade de álcool ingerida, maior é o risco. Já a relação entre tal risco e o consumo moderado de álcool, definido como até uma dose diária para mulheres e duas para homens, ainda não é muito clara, como ocorre nas doenças cardíacas e diabetes, nas quais o consumo leve a moderado já demonstrou ter efeito protetor, enquanto o beber mais intenso pode ter relação inversa.

O consumidor mais pesado de álcool (consumo total equivalente ao que seria 30 g ou mais, ou cerca de 3 ou mais doses por dia) apresentou aumento no risco total de câncer, sendo mais expressivo entre quem já fumou (ou fuma) que entre não fumantes (que nunca fumaram). Quando homens e mulheres não fumantes foram vistos separadamente, não houve aumento do risco entre homens bebedores moderados. Entretanto, o consumo diário de álcool entre mulheres, mesmo que moderado, foi associado a maior risco de câncer, principalmente de mama.

Os autores também chamaram a atenção para a influência de fatores genéticos. Em famílias que possuem indivíduos com câncer, há risco mais elevado para o desenvolvimento da doença quando há consumo de álcool. Por exemplo, o risco de câncer colorretal é maior com o uso de álcool em indivíduos com histórico familiar positivo para a doença e, dessa forma, a predisposição genética deve ser considerada ao optar por restrição ou não ao consumo de álcool.

Como os resultados foram semelhantes para diferentes tipos de bebida - cerveja, vinho ou destilados - os autores concluíram que é o próprio etanol presente na bebida, e não outros componentes, o responsável pela associação com o câncer. É provável que o produto de metabolização do etanol (acetaldeído) seja o principal responsável, mas é possível que o próprio etanol também tenha algum tipo de efeito diretamente carcinogênico. Os resultados de análises estatísticas também não demonstraram haver influência do padrão de consumo, isto é, não houve diferença entre os indivíduos que concentram ou não seu consumo total em menos ocasiões, com ingestão de maior número de doses, tendo sido encontrado como fator associado a quantidade média total consumida.

Como conclusão, os autores destacaram que o consumo moderado está associado minimamente ao maior risco de câncer em geral, mas para as mulheres, mesmo as que nunca fumaram, a ameaça para câncer do tipo relacionado com o álcool, especialmente o de mama, aumenta com a ingestão diária de álcool a partir de quantidade equivalente a uma dose de bebida alcoólica. Em outras pesquisas científicas, o consumo excessivo de álcool já tinha sido relacionado ao maior risco de desenvolvimento de alguns tipos de câncer relacionados ao álcool, como de cavidade oral, faringe, laringe, fígado, esôfago, mama e colorretal.