Aumento de casos de sífilis em Pernambuco reflete falta de conscientização sexual

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/11/2015 às 12:12
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A camisinha é o método mais eficaz para se prevenir contra muitas doenças sexualmente transmissíveis, como a aids e a sífilis (Foto: Divulgação) A camisinha é o método mais eficaz para se prevenir contra muitas doenças sexualmente transmissíveis, como a aids e a sífilis (Foto: Divulgação)

Falta de diálogo sobre sexualidade, noção de que a aids já se tornou uma doença controlada com medicamentos e confiança extrema no parceiro que induz ao sexo sem camisinha. Esses três pontos aparecem entre as principais causas para o aumento expressivo da sífilis, doença infectocontagiosa e sexualmente transmissível cuja incidência tem avançado em Pernambuco. Em 2013, o Estado registrou 386 casos da sífilis adquirida. No ano seguinte, foram 495 registros.

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Os casos de sífilis em gestante e de sífilis congênita (aquela transmitida de mãe para filho durante a gestação) também têm aumentado. Em 2013, foram 677 registros de gestantes com a doença; em 2014, o número subiu para 767 casos. Em relação ao quadro congênito, foram 950 ocorrências em 2013 comparado a 1.258 casos em 2014. Esse avanço dos casos levaram a Secretaria de Saúde de Pernambuco a anunciar o investimento de R$ 4 milhões para fortalecimento de ações de controle e enfrentamento a sífilis e outras sete doenças: tracoma, doença de Chagas, hanseníase, filariose, esquistossomose, helmintíase e tuberculose.

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Para o coordenador estadual de Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids em Pernambuco, François Figueiroa, o grande desafio do órgãos competentes é conscientizar a população sobre a importância, principalmente, da prevenção. "O desafio é mover ações de prevenção, diagnóstico e tratamento na população geral, sujeita à sífilis adquirida. Também é importante ter um olhar mais direcionado para os mais vulneráveis, as minorias, porque as pessoas não discutem sexualidade, e a gente não tem como fazer a prevenção", explica.

A falta de diálogo sobre sexo é outro fator preocupante. As informações equivocadas levam a população sexualmente ativa a cometer os erros mais básicos. Só para ter uma ideia, dados do Ministério da Saúde apontam que 92% da população brasileira sabem como prevenir uma doença sexualmente transmissível, mas 45% desse total não usam camisinha em relações sexuais eventuais.

"É difícil demais a situação. Temos que trabalhar o comportamento humano, o que é superdifícil. E trabalhar comportamento aliado à sexualidade é pior ainda. Há dificuldade de se falar sobre o tema até mesmo em casa. Por isso, é necessária uma conjunção de esforços nas mais diversas instituições para promover prevenção da doença", alerta Figueiroa.

Entenda a doença

A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum e pode ser transmitida através de relações sexuais sem preservativo, da mãe para o feto, por transfusão de sangue ou por contato direto com sangue contaminado. De acordo com o Ministério da Saúde, os primeiros sintomas da doença são pequenas feridas nos órgãos sexuais e caroços (ínguas) nas virilhas que não doem, nem coçam e também não apresentam pus. Mesmo sem tratamento, os ferimentos podem desaparecer sem deixar cicatrizes, mas a pessoa continua doente e a doença vai desenvolvendo até chegar em outro estágio. Nessa outra fase, podem surgir manchas em várias partes corpo e o paciente também pode apresentar queda dos cabelos.

Assim como na primeira fase, esses sintomas também podem desaparecer e a doença não se manifesta durante meses ou anos, até que surgem complicações mais graves, como cegueira, paralisa e doenças cerebrais.

É uma doença que tem cura, em qualquer estágio, e com fácil detecção. O diagnóstico precoce é essencial para o tratamento correto, considerado eficaz. "O diagnóstico precoce quebra a cadeia de transmissão da doença. Por isso, os testes deveriam fazer parte do check-up anual porque a doença geralmente é silenciosa. Mas, mesmo nesse período de silêncio, a pessoa com a doença pode transmitir para outras pessoas", alerta François.

Testagem

Os testes de sífilis, pelo plano de saúde, são solicitados pelo médico. Já pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o recomendado é procurar o posto de saúde mais próximo de casa. Na estrutura municipal, há vários Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). No Recife, o CTA fica na Policlínica Gouveia de Barros, no bairro da Boa Vista, área central da capital pernambucana. Na unidade, além das testagens gratuitas, os funcionários orientam os pacientes e distribuem material informativo para a população.

O principal, no entanto, não é diagnosticar, e sim prevenir. Sexo seguro só com camisinha.