Estudo identifica gene-alvo para terapias contra distrofia muscular

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 14/11/2015 às 9:00
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Estudo sugere que induzir a superexpressão do gene Jagged1 pode evitar o desenvolvimento da doença degenerativa (Foto: Cecília Bastos / USP) Estudo sugere que induzir a superexpressão do gene Jagged1 pode evitar o desenvolvimento da doença degenerativa (Foto: Cecília Bastos / USP)

Da Agência Fapesp de Notícias

Pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) identificaram um gene – conhecido como Jagged1 – que poderá ser alvo para o desenvolvimento de novas terapias contra a distrofia muscular de Duchenne, doença hereditária que causa a progressiva degeneração dos músculos.

A pesquisa foi realizada no âmbito do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-tronco (CEGH-CEL), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP. O artigo com os resultados foi publicado nessa quinta-feira 912) na revista Cell. No mesmo dia, o site da revista Nature publicou reportagem sobre o assunto.

“Todas as terapias gênicas testadas até agora, com pouco sucesso, tinham como alvo o gene codificador da proteína distrofina. Nós estamos apresentando uma abordagem diferente, que abre um leque de novas possibilidades”, afirmou a professora do IB-USP Mayana Zatz e coordenadora do CECH-CEL.

A distrofia muscular de Duchenne, explicou a pesquisadora, é a forma mais comum de distrofia muscular e também a que evolui mais rapidamente, afetando apenas pessoas do sexo masculino. Em decorrência de uma mutação – geralmente herdada – no gene que codifica a proteína distrofina, os portadores sofrem de ausência total dessa molécula essencial para a saúde dos músculos.

“A distrofina mantém a integridade da membrana que envolve as células musculares. Quando ela está ausente, é como ter uma capa furada: proteínas importantes saem do tecido muscular e caem na circulação. Por outro lado, substâncias que deveriam ficar do lado de fora, como o cálcio, conseguem entrar”, explicou.

Não apenas os músculos esqueléticos são afetados, mas também o coração e o diafragma. Em geral, os meninos começam a apresentar problemas na marcha entre os 3 e os 5 anos de idade. Entre 10 e 12 anos já estão dependentes de cadeira de rodas. “Sem cuidados especiais os portadores não chegam aos 20 anos de idade. Hoje, com auxílio de aparelhos respiratórios, podem passar dos 40”, disse Zatz.

Nos últimos 15 anos, o grupo do CEGH-CEL tem realizado estudos em animais portadores de distrofia muscular para ampliar o entendimento sobre a doença, como, por exemplo, os cachorros da raça Golden Retriever que nascem com mutação no gene da distrofina e desenvolvem um quadro clínico semelhante ao de portadores de Duchenne. A maioria dos cães distróficos não passa dos 2 anos de idade.

“Mas há algum tempo identificamos um cachorro que, apesar da ausência total de distrofina, apresentava um quadro muito mais leve da doença. Ele viveu até os 11 anos de idade, o que é considerado normal para a raça, e deixou um descendente também com a mutação que já está com 9 anos de idade”, contou Zatz.

Os cachorros conhecidos como Ringo e Suflair passaram a ser o centro das atenções nas pesquisas do grupo, em particular do estudo da então aluna de doutorado Natássia Vieira. Em parceria com Sergio Verjovski-Almeida, professor do Instituto de Química da USP, Vieira comparou a expressão dos genes em cachorro sadios, nos portadores de distrofia severa e nos dois animais com a forma mais branda da doença.

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