Aplicativo auxilia crianças e adolescentes com autismo no processo de aprendizagem

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 09/11/2015 às 17:40
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Autismo Chamado de ABC Autismo, aplicativo é baseado em quatro níveis de dificuldade, de acordo com método mundialmente utilizado (Foto: Reprodução / Internet)

Com informações da Agência Brasil

Uma ferramente para auxiliar crianças e adolescentes com autismo com dificuldades no processo de aprendizagem. Este é o objetivo do aplicativo ABC Autismo, que adota premissas do programa Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficis relacionados com a comunicação (Teacch), método mundialmente utilizado, criado em 1964 na Universidade da Carolina do Norte (EUA). Até agora, já foram quase 40 mil downloads registrados do aplicativo desenvolvido por pesquisadores do Instituto Federal de Alagoas (Ifal).

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Assim como o Teacch, o ABC Autismo é baseado em quatro níveis de dificuldade. "Os dois primeiros níveis são com habilidades concretas, mas como a gente não podia transpor essas atividades concretas para um aplicativo, a gente pegou atividades dos níveis 3 e 4 do Teacch e transformou em quatro níveis de complexidade no aplicativo", explica Mônica Ximenes, coordenadora do projeto.

Nos dois primeiros níveis do jogo aprende diversas habilidades, como transposição. A partir do terceiro nível, as atividades ficam mais complexas, exigindo um maior raciocínio por parte do usuário. O quarto e último nível do aplicativo aborda a questão do letramento, com exercícios de repartição de sílabas, conhecimento de vogais e formação de palavras.

A aprendizagem funciona mediante sinalização visual. "Quando a criança olha para a tarefa, a própria atividade já indica o que precisa ser feito. Então, isso traz uma autonomia e uma independência para a criança, porque ela não precisa de ajuda para entender a proposta da tarefa, o que ajuda a evitar distrações. A porta de entrada de aprendizagem do autista é visual, por isso ele precisa de estruturas de aprendizagem apoiadas no modelo visual”, pontua.

O aplicativo foi testado na Associação de Amigos Autistas de Alagoas e teve um boa aceitação dos jovens. A validação científica será feita através da tese de mestrado de um dos participantes do projeto. "A ideia é verificar se a ferramenta proporciona uma aceleração do aprendizado de algumas habilidades", ressalta a coordenadora.

Heitor, de 3 anos, diagnosticado com autismo em junho de 2014, é um dos usuários ativos do jogo. A mãe do menino, Tatiane Regina da Paz, diz que o ABC Autismo ajudou o filho, por exemplo, a ter coordenação para encaixar objetos. "Foi uma grande ajuda, tanto que serve para ele desestressar, além de ser educativo. O aplicativo ajuda muito para prender a atenção dele, ele ficar parado e concentrado por um período razoável", comemora.

Para a diretora técnica da Associação Brasileira de Autismo, Maria Helena de Azeredo Roscoe, mãe dos gêmeos Gustavo e Cristiano, de 20 anos, com grau de comprometimento significativo de autismo, o aplicativo poderia apresentar outros níveis de dificuldade. "Para uma aprendizagem mais sólida, eu acho que teria que ter mais conteúdo nesse mesmo formato do aplicativo. Eu acho que tem chance de melhorar mais a aprendizagem de português se forem introduzidos mais módulos no jogo, com graus de dificuldade maiores", avalia.

Entenda a condição

O autismo é uma condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento do cérebro, antes, durante ou logo após o nascimento. Esses distúrbios se caracterizam pela dificuldade na comunicação social e comportamentos repetitivos. Embora todas as pessoas com transtornos do espectro autista partilhem essas dificuldades, o seu estado irá afetá-las com intensidades diferentes. Assim, essas diferenças podem existir desde o nascimento e serem óbvias para todos; ou podem ser mais sutis e tornarem-se mais visíveis ao longo do desenvolvimento.

De acordo com a neuropediatra Carla Gikovate, o aprendizado de português de crianças autistas é bem diferenciado, porque há diferentes tipos de dificuldades para crianças autistas para aprender português. "Tem crianças que não alfabetizam porque não conseguem prestar atenção nas letras, outras podem ter dificuldade em memorizar o que aprenderam, outras podem ter dificuldades de grafismo ao fazer a forma das letras. Cada tipo de dificuldade pressupõe uma intervenção diferente", explica.