Microcefalia: Ministério da Saúde e Opas auxiliam Pernambuco na investigação dos novos casos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/10/2015 às 6:44
reunião microcefalia em PE - destaque FOTO:

O secretário de Saúde de Pernambuco, José Iran Costa, reuniu-se com representantes do Ministério da Saúde e da Opas para discutir sobre o aumento na incidência de microcefalia (Foto: Miva Filho/Divulgação) O secretário de Saúde de Pernambuco, José Iran Costa, reuniu-se com representantes do Ministério da Saúde e da Opas para discutir sobre o aumento na incidência de microcefalia (Foto: Miva Filho/Divulgação)

O secretário de Saúde de Pernambuco, José Iran Costa, reuniu-se na segunda-feira (26) com representantes do Ministério da Saúde (MS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para adotar estratégias para investigar o aumento da incidência de recém-nascidos com microcefalia, condição em que o tamanho da cabeça é menor do que o normal para a idade. Profissionais da Secretaria Estadual de Saúde (SES) e de maternidades de três hospitais da rede pública também participaram do encontro.

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Segundo a secretária-executiva de Vigilância em Saúde de Pernambuco, Luciana Albuquerque, o Hospital Barão de Lucena (HBL), o Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc) e o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) foram as unidades de saúde que começaram a perceber a nova realidade. De janeiro a setembro, o Sistema Nacional de Nascidos Vivos (Sinasc) revela que 20 bebês nasceram com essa alteração no crescimento do cérebro em Pernambuco - 70% deles só em agosto e setembro. No mesmo período de 2013 e 2014, foram registrados, respectivamente, 10 e 12 casos.

Aos 20 casos deste ano, acrescentam-se mais 26 novos casos de microcefalia em crianças que nasceram nos últimos 15 dias em maternidades públicas do Estado. "Provavelmente esse número é maior, pois a microcefalia não é de notificação compulsória", diz Luciana, ao informar que não há ainda informações exatas sobre a quantidade de casos confirmados dessa condição. "Por isso, iniciamos esse trabalho com o Ministério da Saúde e a Opas, com o intuito de fazer um estudo retrospectivo para levantar números anteriores da microcefalia no Estado e também notificar os novos casos daqui para frente. Em breve, teremos um panorama parcial mais fiel."

Ela acrescenta que, para a análise do aumento do número de recém-nascidos com microcefalia, o Ministério da Saúde direcionou seis profissionais do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde (Episus) que ajudarão a fazer uma busca ativa dos casos. "Eles irão para os hospitais, a fim de pesquisar novos casos."

Arte microcefalia

Câmara temática

Também na segunda-feira (26), mais um grupo de profissionais formado por médicos, pesquisadores, profissionais da SES, do MS e da Opas se reuniu para oficializar a criação da Câmara Temática de Microcefalia do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe). A aliança tem como objetivo traçar estratégias capazes de corroborar a força-tarefa criada para investigar o aumento da incidência dos casos de microcefalia em recém-nascidos.

“O objetivo da câmara temática é promover uma articulação com diversos setores para fortalecer a investigação e também captar recursos e fomento à analise dessa elevação no número de casos, que pode ter várias causas”, explica o médico Carlos Brito, coordenador da Câmara Temática de Microcefalia do Cremepe.

Infecções congênitas (transmitidas pela mãe ao filho durante a gravidez, como toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus) podem explicar o aumento na incidência da microcefalia, embora especialistas acreditem que outro agente esteja por trás da atual situação no Estado.

"Câmara Temática do Cremepe promoverá articulação com diversos setores para fortalecer a investigação dos novos casos de microcefalia em Pernambuco", diz Carlos Brito "Câmara Temática do Cremepe promoverá articulação com diversos setores para fortalecer a investigação dos novos casos de microcefalia em Pernambuco", diz Carlos Brito

Entre novas hipóteses, está uma possível relação com a infecção pelos vírus da dengue, chicungunha e zika durante a gestação, especialmente no primeiro trimestre da gravidez, período crucial para o desenvolvimento do cérebro do bebê. Ainda não se pode, contudo, confirmar essa relação com as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

“Houve uma mudança de padrão na ocorrência da microcefalia, mas não podemos assegurar ainda o motivo que justifique a nova realidade”, diz Luciana Albuquerque.

Os especialistas passaram a pensar na infecção pelos vírus da dengue, chicungunha e zika porque, desde o começo do ano, Pernambuco vive uma epidemia de dengue, que coincide com o período de gestação das mulheres que recentemente deram à luz um bebê com microcefalia. Mas ainda é precoce pensar num elo entre bebês com microcefalia e a infecção pelo vírus propagado pelo mosquito.