Pacientes com cistite devem seguir corretamente o tratamento para evitar superbactérias

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 13/09/2015 às 14:46
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A bactéria Escherichia coli, principal causadora da cistite, é das mais comuns e atinge metade das mulheres durante a vida (Foto: Free Images) A bactéria Escherichia coli, principal causadora da cistite, é das mais comuns e atinge metade das mulheres durante a vida (Foto: Free Images)

As superbactérias têm impactado negativamente o tratamento de diversas doenças, como a cistite, que conhecemos como infecção urinária. O problema vem do hábito de tomar antibióticos sem necessidade (ou por um período menor do que o recomendado), o que torna as bactérias mais resistentes aos mecanismos de ação dos medicamentos disponíveis. Um levantamento recente realizado pelo governo britânico revela que 10 milhões de pessoas no mundo poderão morrer anualmente em decorrência desse problema, se medidas não forem tomadas.

Uma análise sobre a bactéria Escherichia coli, a principal causadora da cistite, foi incluída no relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela é uma das mais comuns (atingirá metade das mulheres durante a vida) e poderá se tornar uma superbactéria.

Vale destacar que cerca de um terço das infecções atinge o trato urinário. A ginecologista Patrícia de Rossi, do Hospital do Mandaqui, em São Paulo, orienta sobre os medicamentos indicados para esses casos. “As drogas da categoria das quinolonas ainda são prescritas, mas, por tratarem uma série de outras infecções, há muitas bactérias resistentes a elas. Ainda é uma opção que pode ajudar, porém, se a bactéria for multirresistente, não haverá cura. O tratamento deverá ser refeito com outro medicamento”, explica.

Uma saída para o combate às superbactérias causadoras de infecção urinária, segundo a médica, é o uso de fosfomicina trometamol. “O índice de resistência bacteriana a essa apresentação é baixa. Outra vantagem é que a fosfomicina trometamol é usada em dose única, fator que simplifica o tratamento”. O uso dessa medicação já é uma recomendação que aparece na diretriz da Associação Médica Brasileira (AMB), que orienta os médicos sobre o tratamento de doenças. Embora seja administrada através de uma única dose, sua ação permanece por até quatro dias no organismo.

“O uso indevido coopera para o fortalecimento das superbactérias”, alerta o infectologista Artur Timerman, do Complexo Hospitalar Professor Edmundo Vasconcelos. As bactérias desenvolvem mutações genéticas quando expostas a condições desfavoráveis, sobrevivendo a novos meios e situações. Quando uma delas cria a proteção a um antibiótico, essa informação é compartilhada com qualquer outra bactéria com a qual ela tenha contato, o que torna a disseminação da resistência se dê de forma muito rápida. É por essas características que, com o passar dos anos, algumas bactérias criaram a habilidade de se proteger de medicamentos antibióticos.

A solução proposta após a pesquisa do governo britânico é que a comunidade internacional se reúna para, nos próximos cinco anos, estimular a indústria farmacêutica a desenvolver uma classe de antibióticos capaz de eliminar as superbactérias, em valores que poderiam chegar a US$ 37 bilhões em dez anos. Por outro lado, caso isso não ocorra, o impacto na economia mundial seria de até US$ 100 trilhões (mais de R$ 320 trilhões) entre 2015 e 2050.

Saiba mais

Quando uma pessoa já está afetada por alguma bactéria multirresistente, o caso deve ser tratado de forma individual. Segundo Artur Timerman, o paciente primeiramente deve ser submetido a um isolamento rigoroso para impedir a disseminação da infecção. "Após isso, os antibióticos utilizados deverão ser definidos de acordo com exames que demonstrem o grau de resistência dessa bactéria. Normalmente, são utilizados dois ou mais deles", finaliza o infectologista.