Mulheres que tiveram pré-eclampsia têm mais risco de infartar, alerta pesquisadora

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 04/09/2015 às 8:58

Uma boa consulta cardiológica e um eletrocardiograma bem interpretado podem diagnosticar mais de 90% dos problemas cardíacos, principalmente os congênitos (Foto: Free Images) Histórico da doença requer atenção de um cardiologista - Foto: Free Images

Novas diretrizes na área de cardiologia mostram que mulheres que tiveram pré-eclampsia têm duas vezes mais riscos de desenvolver doenças cardiovasculares e quatro vezes mais chances de adquirem hipertensão ao longo da vida. O assunto foi tratado no ESC 2015, em Londres, pela doutora Angela Maas, cardiologista, professora da universidade holandesa de Radboud e criadora do fundo HeartforWomen.

Doença hipertensiva desenvolvida na segunda metade da gravidez, a pré-eclampsia ocorre em até 8% das mulheres grávidas - o que, no Brasil, seriam pelo menos 232 mil mulheres, considerando os 2,9 milhões de nascidos vivos em 2013, segundo o DataSUS; sem falar naquelas que não conseguem ter seus filhos.

Segundo Angela Mass, o impacto da pré-eclampsia e outras desordens severas de hipertensão na saúde cardiovascular das mulheres é subestimado. "Essas mulheres jovens são um grupo de alto risco, mas infelizmente ainda não são vistas desta maneira, porque a atribuição da pré-eclampsia às doenças cardiovasculares ainda não é aceita oficialmente como um fator de risco".

Em sua apresentação, Angela Maas apresentou estudos que acompanharam mulheres com histórico de pré-eclampsia por mais de 15 anos, comprovando a maior incidência das taxas de internação e morte devido a infartos. Um deles, o Rochester Family Heart Study, fez uma análise de 27 anos,  e comprovou que o escore de cálcio (EC) é maior nesse grupo.

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Na Holanda, há diretrizes para essa associação. No ano passado, a American Heart Association também lançou as suas. Porém, são exceções. "Sem esse reconhecimento, essas mulheres são neglicenciadas, não são tratadas para que se previnam as doenças cardiovasculares", alerta a médica. Para ela, isso ocorre porque há uma distância entre a ginecologia e a cardiologia. Angela Maas explica que a pré-eclampsia é uma doença tratada pelo ginecologista, que geralmente não encaminha a paciente para o cardiologista. "Existe um 'gap' (vão) nesse meio tempo e, enquanto isso, ninguém cuida dela".

COMO CUIDAR

Para a pesquisadora, a primeira coisa a fazer é identificar as mulheres que tiveram pré-eclampsia e encaminhá-las para um tratamento cardiológico preventivo. "Nós podemos prevenir tromboses e ataques cardíacos com um acompanhamento simples", orienta Angela Mass, que complementa dizendo que a mulher pode, inclusive, medir regularmente sua pressão arterial em casa, com ajuda de aplicativos através dos quais ela pode enviar os dados para seu médico" (leia mais sobre como aplicativos da área podem ajudar ou atrapalhar o tratamento). "As mulheres precisam trabalhar e cuidar de suas vidas, não podemos pedir que elas estejam sempre nos consultórios", lembra. De acordo com a cardiologista, fazer um check-up uma vez a cada um ou a cada três anos, dependendo do caso, é o suficiente.

E com essa postagem encerramos nossa cobertura do ESC 2015, que foi realizado em Londres entre 28 de agosto e 2 de setembro e para o qual viemos a convite da Amgen. Até mais!