Novos medicamentos reduzem colesterol e aumentam expectativa de vida de pacientes

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 02/09/2015 às 16:11
hipercolesterolemia FOTO:

hipercolesterolemia

 

Mesmo tomando remédios, fazendo exercícios físicos e alimentando-se bem você não consegue reduzir seus níveis de colesterol? Temos uma boa notícia: três grandes laboratórios estão trabalhando em medicamentos que dão uma nova alternativa para quem não consegue baixar o LDL (colesterol ruim) por intolerância às drogas existentes ou porque tem Hipercolesterolemia Familiar (HF).

Os novos medicamentos basicamente eliminam uma proteína chamada PCSK9, que reduz a absorção de LDL pelo fígado, responsável por "expulsar" o colesterol ruim do corpo. "Uma vez que estas drogas estejam disponíveis no Brasil serão de um benefício muito grande para os pacientes", assegura o coordenador do programa Hipercol Brasil, do Instituto do Coração (Incor), o cardiologista Raul Dias Santos.

Quando fala em benefício, o médico se refere principalmente à possibilidade de uma vida mais longa para pessoas - especialmente adolescentes e jovens adultos - que morrem por complicações cardiovasculares devido ao alto nível de colesterol.

Os inibidores de PSCK9 são uma nova categoria de produtos na área da cardiologia, já que o uso de medicamentos biológicos é caminho ainda pouco utilizado na área. O evolocumab, anticorpo monoclonal humano da Amgen (que nos convidou para a cobertura do ESC 2015), foi aprovado na Europa e nos Estados Unidos recentemente. O produto da Sanofi também já tem a aprovação norte-americana. Já o da a Pfizer ainda está sob análises nesses continentes.

As três empresas fazem parte dos apoiadores de um fórum específico criado para discutir a inibição do PCSK9, que pode ser acessado no www.pcsk9forum.org (em inglês).

O QUE É O PCSK9?

Com ajuda de imagens como as mostradas abaixo, o diretor médico da Amgen, Marcelo Vianna, nos explicou que os receptores de LDL ficam na superfície das células do fígado. Eles "agarram" a molécula do colesterol e levam pra dentro do órgão, onde o LDL é processado para ser expelido do corpo através das fezes. Depois, os receptores voltam para a superfície da célula para recomeçar o trabalho.

Processo de processamento do colesterol pelo fígado Processo de processamento do colesterol (bolinha amarela) pelo fígado - os receptores são esses ganchinhos azuis

 

Interferência da PCSK9 (bolinha roxa) Interferência da PCSK9 (bolinha roxa)

Embora seja um produto natural do nosso corpo, fabricada pelo próprio fígado, a proteína PSCK9 interfere nesse processo de modo negativo, porque ela faz com que o receptor seja "destruído" junto com o LDL dentro da célula hepática. E esse é um conhecimento novo. A PSCK9 só foi descoberta em 2003.

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As pesquisas desenvolvidas atualmente não são conclusivas quanto à função do PSCK9 no organismo, embora os estudos indiquem que pode ter a missão de manter um equilíbrio no fígado. Até agora, as pesquisas não mostraram prejuízos à saúde de quem recebe medicamento para eliminar a proteína.

O que se estuda agora é a eficácia dos medicamentos sobre a redução de doenças cardiovasculares, com resultados esperados para 2017. Porém os estudos já apontam para um recuo de até 65% nesses episódios. "Somente a prática clínica vai nos mostrar isso", disse o doutor Kausik Ray, na palestra sobre o assunto durante o ESC 2015, em Londres, que lotou a sala com centenas de profissionais de saúde.

blog3 Palestra sobre inibidores de PCSK9

COMO É HOJE

Atualmente, pessoas que sofrem com altos níveis de colesterol (dislipidemia ou HF) são tratadas geralmente com um combinação de ezetimiba e estatinas, substâncias inclusive fornecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A primeira diminui a absorção de gordura pelo intestino. As segundas são o principal combate, porque aumentam a síntese do LDL no fígado. Porém, há casos em que o paciente desenvolve uma intolerância às estatinas, que deixa de cumprir sua função de reduzir o LDL, ou sofre muito com seus efeitos colaterais, como dores e cansaço.

Em último caso, é possível usar a aférese terapêutica, procedimento para tirar do sangue substâncias como o colesterol, com funcionamento semelhante à hemodiálise. No entanto, é algo caro e penoso, por isso mesmo pouco utilizado.

No caso da Amgen, até agora os testes feitos em grupos que receberam uma combinação de estatinas e evolocumab mostram redução do nível de colesterol até 70 mg/dl (indicado para pessoas com HF ou dislipidemia) em 94% dos pacientes, contra 14% que estavam recebendo placebo. Para aqueles que sofrem com intolerância à estatina, a droga reduziu o LDL a esses níveis em 46% dos casos, bem acima dos 2% dos pacientes tratados com ezetimiba. A medicaçãoé autoaplicável pelo paciente, com uma dose (140mg) a cada duas semanas ou uma (420mg) por mês.

Simulação de aplicação do evolocumab Simulação de aplicação do evolocumab

NO BRASIL

Aqui, o evolocumab (que está mais avançado no processo de chegada ao mercado), está sob análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que pode levar até 24 meses para ser concluído. Depois, segue para o Ministério da Fazenda para ser definido o preço de mercado, adicionando mais dois ou três meses até chegar às prateleiras.

Raul Santos é pessimista quanto à futura disponibilidade da droga para o SUS, devido ao alto preço. O custo atual está em torno de US$ 1.000 mensais, ou cerca de US$ 12 mil ao ano; ou, ainda, R$ 44.640 anuais (na cotação desta quarta-feira, 2/9). De todo modo, ainda não se sabe a que preço os inibidores da PCSK vão chegar ao Brasil.

Entrentanto, ele defende veementemente que o medicamento tem que estar disponível para quem realmente precisa dele no País. "Se realmente não for pelo SUS, o governo pode fazer parcerias com centros de pesquisa de referência para que isso ocorra", opina.

O ESC 2015 acabou nesta quarta-feira (2/9), mas nós ainda temos um assunto para mostrar a vocês. Até mais!