Identificar a Hipercolesterolemia Familiar (HF) pode salvar a sua vida e a dos seus filhos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/09/2015 às 17:00
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Um dos alertas mais constantes que ouvimos no ESC 2015 foi sobre como os altos níveis de colesterol são a maior ameaça ao coração, embora esse ainda seja um fato subestimado. Outro, ainda mais importante, é: um número enorme de pessoas não sabe, mas pode ter herdado dos pais uma doença chamada Hipercolesterolemia Familiar (HF), que faz com que você acumule colesterol "ruim" (LDL) desde o nascimento, aumentando em até 13 vezes as chances de morte por falhas cardiovasculares, como infartos, inclusive já na adolescência.

"Quem já tem acúmulo nas artérias pela doença genética, está exposto ao excesso desde que nasce e, portanto, às doenças cardiovasculares, como explica o cardiologista Raul Dias Santos, com quem conversamos durante o ESC 2015, em Londres. Ele coordena no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, o Hipercol Brasil. O programa já fez o screening (análise de parentes) em mais de 3 mil pessoas. E dentre as que são acompanhadas hoje, 40 são crianças. Saiba mais sobre o Hipercol Brasil no vídeo abaixo (ele é o segundo entrevistado).

 

Para se ter uma ideia de como é um assunto "novo" em relação às demais patologias do ramo, somente em 2012 a Sociedade Brasileira de Cardiologia lançou diretrizes sobre HF e, naquele ano,não gerou o interesse que outros assuntos tinham. "O médico acha que isso é raro, que não existe. Ele não entende que é uma doença comum", alerta Marcelo Bertolami, cardiologista e diretor científico do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, que trabalhou no lançamento desta diretriz e que também encontramos nos corredores do ESC 2015. Ele destaca que a incidência da HF é a maior entre doenças genéticas, chegando a ocorrer um caso para cada grupo de 200 pessoas. Estima-se que menos de 1% dos casos sejam diagnosticados atualmente*. Bertolami reforça que o diagnóstico é simples, feito a partir da conversa do médico com o paciente e de análises de exames de sangue.

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"Hoje as consultas médicas não podem durar 10 minutos. É preciso entender o histórico do paciente para identificar e tratar doenças como essa", defende o diretor médico da Amgen, Marcelo Vianna, que explica mais sobre a doença no vídeo acima. O laboratório é uma das três grandes empresas que têm medicamentos para inibir a proteína PCSK9. - uma das maiores descobertas recentes na área.

Vamos a um resumo para que possamos entender porque é tão urgente dar atenção à HF:

PORQUE SUBESTIMAMOS

- Falta de conhecimento: muitos profissionais ainda não se preocupam tanto com o colesterol quanto deveriam. No caso da HF, esse desconhecimento é ainda maior, já que mesmo entre os médicos ela ainda é pouco reconhecida e investigada. No ESC 2015, entretanto, ficou claro pelo destaque que o tema teve e pela grande adesão às palestras sobre o assunto como as instituições que pesquisam prevenção e tratamento querem mudar esse quadro.

- Colesterol alto não dói: o LDL, o colesterol ruim, já é considerado como o maior propulsor de doenças cardiovasculares. Mas, até ele culminar em uma ocorrência grave, como um infarto, ou levar à morte, dificilmente é levado a sério.

- O mito da magreza: embora sobrepeso seja um fator que levanta suspeita sobre os níveis de colesterol, pessoas magras também podem estar doentes.

PORQUE NÃO DEVERÍAMOS SUBESTIMAR

- As pessoas morrem por causa disso: o colesterol ruim é o responsável pela maior parte das doenças cardiovasculares, que, por sua vez, afeta 30% da população. O risco salta para quem tem HF, matando inclusive adolescentes. Além disso, metade das pessoas que têm infarto nunca sentiram nada antes e, desses, 50% morrem na primeira manifestação. "É criminoso dizer que o colesterol não é um fator de risco para mortes por doenças cardiovasculares", reclama Raul Dias Santos.

- O impacto da redução é grande: para a população em geral, para cada 40 mg de colesterol ruim reduzidos, são 20% menos chances de ter uma doença cardiovascular.

- Os riscos associados aumentam: outros fatores como tabagismo, avanço da idade e hipertensão se aliam ao colesterol alto contra o coração.

COMO IDENTIFICAR A HF

- Uma boa conversa: investigar os níveis de LDL de parentes, especialmente os de primeiro grau. A análise genética é complementar, o diagnóstico é clínico, feito no consultório a partir de resultados de exames de sangue simples.

- Colesterol "visível": em casos mais agudos da HF, o colesterol fica depositado sobre a pele, próximo às articulações, em pequenas formações com fibrose, como se fossem "caroços de gordura".

- Cuidado com as crianças: se houver histórico de colesterol alto na família, crianças a partir de 12 anos já podem ser avaliadas. Se não houver, a partir dos 10 anos já é indicado.

Corrigindo o que dissemos antes, o ESC 2015 vai até esta quarta-feira (2/9). Viemos a convite da Amgen e ainda vamos trazer mais informações para vocês. Até mais!

*Atualização em 2/9, às 14h09