Pesquisadores apresentam novo caminho para reverter células cancerosas em saudáveis

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 27/08/2015 às 11:22
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microscópio Experimentos feitos em laboratório estão em fases iniciais (Foto: Free Images)

O aumento dos novos casos de câncer no mundo e a mortalidade pela doença têm levado pesquisadores a investigar o efeito de novas possibilidades terapêuticas capazes de debelar o mal de forma eficaz e pouco agressiva. Na segunda-feira (24), um time de cientistas da Mayo Clinic (Flórida), hospital universitário dos Estados Unidos sem fim lucrativos, anunciou que há um caminho para reprogramar células cancerosas e fazer com que elas voltem a ser saudáveis.

Os experimentos feitos em laboratório estão em fases iniciais, mas os pesquisadores já conseguem perceber que a nova estratégia controla o crescimento de tumores agressivos. A descoberta foi publicada na revista Nature Cell Biology e representa "uma nova biologia que fornece o código, o software para desligar o câncer”, segundo explicou o presidente do Departamento de Biologia do Câncer da Mayo Clinic (campus Flórida), Panos Anastasiadis. Ele acrescenta que as experiências iniciais em alguns tipos de câncer agressivos são realmente muito promissoras.

Convidamos a oncologista Cristiana Tavares, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no Recife, para falar sobre esse passo importante que pode dar um novo rumo ao tratamento do câncer. "Os pesquisadores descobriram que células normais, quando se unem através de moléculas de adesão, têm a capacidade de impedir o crescimento celular, porém isso não acontece com as células cancerígenas. Os pesquisadores fazem essa reprogramação através do RNA celular para que essas células bloqueiem a reprodução desacelerada quando entrem em contato umas com as outras", explica Cristiana.

“Para que os achados desta pesquisa se apliquem como medida populacional, ainda há uma longa jornada, mas muitas drogas eficazes e métodos diagnósticos começaram dessa maneira”, diz Cristiana Tavares (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem) “Para que os achados desta pesquisa se apliquem como medida populacional, ainda há uma longa jornada, mas muitas drogas eficazes e métodos diagnósticos começaram dessa maneira”, diz Cristiana Tavares (Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem)

Ela reforça que, apesar de o estudo estar numa fase muito embrionária, pode indicar uma luz na terapia do câncer. "Para que esses achados se apliquem como medida populacional, ainda há uma longa jornada, mas muitas drogas eficazes e métodos diagnósticos começaram dessa maneira", diz a oncologista.

Mortalidade por câncer

Esses novos experimentos não deixam de ser uma esperança capaz de ajudar a frear, a longo prazo, as estatísticas relacionadas à doença. A Organização Mundial da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) preveem que, em 2020, o câncer se torne a principal causa de morte no Brasil.

Só em relação ao câncer de mama, o mais prevalente entre as mulheres e a principal causa de morte entre as brasileiras, somam-se 57 mil novos casos a cada ano, segundo estimativas do Inca.

Um detalhe é que 50% das pacientes diagnosticadas no Sistema Único de Saúde (SUS) já estão em estágio avançado. Apesar das campanhas educativas que alertam sobre a necessidade da realização da mamografia, exame capaz de detectar o câncer de mama em estágio inicial (fase em que as chances de cura são altas), as taxas de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas no Brasil e chegando a mais de 13 mil mulheres por ano.