Pediatra esclarece dez mitos e verdades sobre aleitamento materno

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 04/08/2015 às 9:10
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Imagem de amamentação (Foto: Guga Matos / JC Imagem) Receio de que estresse e nervosismo atrapalham a produção de leite é um dos mitos sobre aleitamento; confira as principais dúvidas sobre o tema (Foto: Guga Matos / JC Imagem)

Ao amamentar, o vínculo entre mãe e bebê vai muito além do afetivo. Através do leite materno que o sistema imunológico da criança é fortalecido com propriedades exclusivas presentes na substância. Pela importância do aleitamento, muitas mamães procuram informações sobre amamentação ao longo da gestação. As perguntas são tantas que às vezes ficamos cheias de dúvidas.

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O pediatra Hamilton Robledo, da Rede de Hospitais São Camilo, em São Paulo, esclareceu dez dúvidas sobre o tema, desmistificando alguns mitos e verdades sobre amamentação. Confira:

1. O leite materno tem nutrientes que a fórmula não fornece.

Verdade. Do ponto de vista nutricional, só o leite materno possui todos os nutrientes que o bebê precisa nos seis primeiros meses de vida, como proteínas, lipídios, carboidratos, vitaminas (A, B12, D, E, K e C), piridoxina, cálcio, fósforo, ferro, zinco, ainda água, sódio, cloro, potássio, folato, riboflavina e tiamina, além das prioridades imunológicas que não constam no leite artificial. As fórmulas do mercado são feitas com proteínas, gorduras balanceadas, ácidos graxos específicos, tendo a lactose como principal carboidrato, e enriquecidas com ferro e aminoácidos, mas não contêm as vitaminas que possuem o leite materno. A gordura do leite materno é rica em Ômega 3, colesterol e lipase, que atuam no sistema digestivo e não estão presentes no leite artificial. O colesterol do leite materno é quase que todo absorvido e o da fórmula não, o que pode propiciar à criança o risco de doenças no coração na fase adulta.

2. O bebê que se alimenta exclusivamente pelo leite materno tem mais imunidade.

Verdade. O leite materno possui anticorpos que propiciam imunidade para a criança contra doenças, até que o sistema imunológico esteja desenvolvido (em torno de seis meses), e que não podem ser replicados no leite artificial.

3. A alimentação da mãe reflete no leite.

Mito. Durante a amamentação, alguns alimentos são apontados erroneamente como causadores de cólicas no recém-nascido, como o feijão. Mas, vale ressaltar que é sempre importante ter uma alimentação balanceada e que contenha ferro e vitamina C, com a inclusão de carnes, ovos, soja, ervilha, lentilha, feijão, vegetais de folhas verdes escuras, frutas cítricas e legumes.

4. O leite materno pode não ser suficiente para nutrição do bebê.

Mito. As mulheres que amamentam têm uma incrível capacidade de produzir leite em quantidade e qualidade suficientes para o bebê, mesmo que não estejam se alimentando adequadamente. Quando a mulher tem problemas na sua dieta e não consegue obter os nutrientes que precisa, seu organismo busca em suas reservas. As lactantes produzem, em média, de 750 a 800ml de leite, por dia. Então, elas têm que ingerir muito líquido e se alimentar adequadamente. Na maioria dos casos, a dieta habitual da mãe é suficiente para o bom estado nutricional, tanto dela como do bebê.

5. Leite materno congelado perde os nutrientes.

Mito. Se armazenado corretamente, não há perda de nutrientes. Em temperatura ambiente, o leite pode ser consumindo em até 10 horas. Na geladeira, deve ser colocado sempre na parte mais fria (nunca na porta) e pode ser consumido em até oito dias. No congelador, o prazo se estende para três meses e, no freezer, até seis meses. Para tal, é preciso respeitar algumas normas:

- Usar primeiro o leite armazenado mais antigo (sempre etiquetar);

- Deixar o leite congelado na geladeira da noite para o dia, quando for utilizá-lo no dia seguinte;

- Para descongelar, colocar sob água morna ou em uma tigela de água morna. Não usar água quente, pois isso destrói os nutrientes, e não utilizar o micro-ondas, pois aquece de forma irregular e altera a composição do leite;

- Não voltar a congelar o leite materno e descartar sobras. O "recongelamento" altera a composição do leite e determina a perda dos nutrientes;

- Sacudir o leite contido no frasco para misturar as camadas.

6. Mamadeira interfere no aleitamento.

Verdade. A mamadeira causa na criança uma confusão de bicos: em um, ela tem que fazer muita força para extrair o leite (peito), em outro, é bem mais fácil e requer menos esforço (mamadeira). Por isso, há grandes chances da criança parar de mamar no peito, ainda nos primeiros 60 dias de vida. Além disso, mamadeiras e chupetas prejudicam a função motora-oral da criança, exercendo papel importante na síndrome do respirador bucal e problemas ortodônticos, pois não estimulam adequadamente os músculos da boca. Também propiciam o aparecimento de infecções e acabam reduzindo o tempo gasto pela criança sugando, contribuindo para diminuição do leite. Diversos estudos pelo mundo mostram a associação significativa entre o uso da chupeta e a menor duração do aleitamento.

7. Estresse e nervosismo atrapalham a produção de leite.

Mito. Estresse, nervosismo, medo, angústia e ansiedade não atrapalham a produção do leite, que é determinada por um hormônio chamado prolactina e estimulada pela sucção do bebê. Porém, essas emoções afetam a saída do líquido, que é realizada pelo hormônio chamado ocitocina, produzido pelo hipotálamo e armazenado na neurohipófise posterior, tendo a função de promover as contrações uterinas, reduzir o sangramento durante e após o parto e estimular a liberação do leite materno.

8. A criança deve mamar a cada três horas.

Mito. Recomendamos à lactante a livre demanda, sem ela se importar com horários rígidos da mamada. Isso é mais frequente nos primeiros 30 dias, nos quais o bebê mama quase que de hora em hora, pois não apresenta força muscular e se cansa rapidamente. Depois, ele mesmo vai espaçando os horários das mamadas, ficando algo em torno de a cada duas ou três horas, ou seja, de oito a 13 vezes em um período de 24 horas. No decorrer do desenvolvimento da criança, ela acordará quando precisar comer, às vezes, espaçando mais esses horários, chegando a até seis horas, principalmente, à noite. O importante é sempre oferecer as duas mamas, durante o ato.

9. Amamentar fortalece o vínculo entre a mãe e o bebê.

Verdade. Amamentar promove o estabelecimento de uma ligação emocional muito forte entre mãe e o bebê, o que favorece e fortalece o desenvolvimento da criança e o relacionamento dela com as outras pessoas.

10. Amamentação deve ser exclusiva até os seis meses.

Verdade. Quando o bebê mama somente leite materno durante seis meses e continua sendo amamentando até os dois anos, após introdução de outros alimentos, terá uma boa saúde até a vida adulta.