Estudo traça primeiro retrato da insuficiência cardíaca no Brasil

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 18/06/2015 às 10:35

Pesquisa mostra que, em um ano, 40% pacientes pesquisados, internados em hospitais públicos e privados do País, morreram (Foto: Free Images) Estudo mostrou que 32% dos pacientes são reinternados porque não tomam a medicação adequadamente (Foto: Free Images)

Da Agência Brasil

Um estudo publicado na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mostra que 50 mil pessoas morrem todo ano no Brasil por complicações cardíacas. Estima-se que 100 mil novos casos são diagnosticados a cada ano no País. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 23 milhões de pessoas sofrem com a doença em todo o mundo. O 1º Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca (Breathe, do inglês Brazilian Registry of Acute Heart Failure) traça um panorama inédito da síndrome nas diversas regiões do País.

Leia também:

>> Exercício é benéfico para quem tem insuficiência cardíaca, diz estudo

Os novos tratamentos, tecnologias e fármacos para a insuficiência cardíaca estão em discussão, no Rio de Janeiro, durante o 14º Congresso Brasileiro de Insuficiência Cardíaca, considerado o mais importante encontro da especialidade médica no Brasil. O estudo Breathe aponta a insuficiência cardíaca como um problema de saúde pública importante e faz duas constatações: a elevada taxa de mortalidade intra-hospitalar por insuficiência cardíaca e uma grande taxa de reinternações, disse o professor de cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Denilson Albuquerque, coordenador do Breathe.

“A insuficiência cardíaca é a via final de uma cardiopatia, qualquer que ela seja: um infarto mal tratado, uma hipertensão que não foi tratada, um problema na válvula do coração que não teve o tratamento adequado. Tudo isso resulta em falência do coração e, em consequência, em uma insuficiência cardíaca", explica Albuquerque.

De acordo com o professor, o Breathe indica a necessidade de um alerta à população para o problema. Segundo o estudo, a insuficiência cardíaca acomete mais pessoas idosas e tem alta taxa de mortalidade. Em um ano, 40% dos cerca de 1.270 pacientes pesquisados, internados em 51 hospitais públicos e privados em 21 cidades brasileiras, morreram. “É uma alta taxa de mortalidade e necessita de um tratamento eficaz e rigoroso para conseguir melhorar as condições físicas dos pacientes”, disse Albuquerque.

Problema não atinge apenas idosos

O levantamento mostra que a média de idade dos pacientes é 64 anos. Entretanto, diz o médico, isso não significa que não haja pessoas de 30 anos ou menos com problemas cardíacos. Para ele, a prevenção pode ser uma arma importante no combate às doenças cardiovasculares. “Uma vez instalada, é preciso tratá-la adequadamente, para que ela não resulte em uma insuficiência cardíaca.” A prevenção engloba parar de fumar, fazer atividade física e tratar a hipertensão.

O coordenador do estudo alegou ainda que o problema é que a síndrome acomete mais pessoas da terceira idade. “E se pensarmos que o Brasil já é a quinta população de idosos do mundo, estamos vivendo uma verdadeira pandemia de insuficiência cardíaca. Essa é a nossa preocupação. Não tem cardiologista para tratar todo mundo. Precisa-se treinar os clínicos gerais para que reconheçam a doença também e fazer um alerta para os pacientes entenderem o que é a síndrome, para o seu próprio cuidado.”

Do total de pacientes analisados com a doença, 73,1% estavam acima de 75 anos e 60% eram mulheres. O estudo mostrou ainda que 32% dos pacientes são reinternados porque não tomam a medicação adequadamente. “Ou seja, não tomando conhecimento da gravidade da situação, a pessoa acaba negligenciando a doença.”

O Estudo Breathe revela que a insuficiência cardíaca no Brasil apresenta características específicas em algumas regiões. No Nordeste, ela prevalece em pessoas que têm pressão alta, cujo tratamento não é tão enfático como na Região Sudeste, disse o especialista. Na Região Sul, a síndrome é mais prevalente em pessoas que têm doenças nas coronárias, como infarto.

O especialista informou que o estudo será ampliado neste ano e passará a abranger um universo de 3 mil pacientes, para que, por meio das informações epidemiológicas, possa tratar melhor os pacientes e interagir com os cardiologistas de todo o País. O trabalho será iniciado em agosto.