Oito décadas de Alcoólicos Anônimos com lições para quem deseja vencer a dependência

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 10/06/2015 às 12:26
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AA dissemina filosofia de 12 passos que ajudam pessoa dependente da bebida alcoólica a se manter longe da embriaguez (Foto: André Nery/JC Imagem) AA dissemina filosofia de 12 passos que ajudam pessoa dependente da bebida alcoólica a se manter longe da embriaguez (Foto: André Nery/JC Imagem)

O engenheiro José* completa 24 anos sem tomar um só gole de bebida alcoólica. “Em todo esse tempo, vou para onde quero, participo do que quero e não preciso do álcool. Esse programa me libertou”, conta José, que se livrou das consequências nefastas da dependência graças ao suporte que tem recebido do Alcoólicos Anônimos (AA) – uma irmandade de mais de 2 milhões de homens e mulheres que completa 80 anos de atividades no mundo nesta quarta-feira (10).

O depoimento dele foi dado durante uma das muitas reuniões que o AA promove em Pernambuco. No Estado, 430 grupos (320 deles espalhados pelo Grande Recife) promovem encontros todas as semanas. Na ocasião, é disseminada a filosofia de 12 passos que ajudam uma pessoa dependente da bebida alcoólica a se manter longe da embriaguez. O maior lema do AA é mencionado por José: “Para vencer os malefícios causados pela dependência, precisamos aceitar que somos impotentes perante o álcool. E isso é muito difícil. Cerca de 90% das pessoas alcoólatras não admitem que têm a doença. Sem esse reconhecimento, não dá para se livrar do problema”, relata.

Ele acrescenta que, para debelar o alcoolismo, também é preciso evitar o primeiro gole. “É ele que leva a toda a bebedeira, é ele que desmoraliza a gente e também mata. Qualquer alcoólatra tem condições de passar 24 horas sem beber, mas precisamos nos conscientizar de que não devemos dar o primeiro gole”, diz José, ao se referir ao primordial objetivo do tratamento: manter a pessoa em total abstinência. Em outras palavras, significa dizer que o primeiro gole é sempre uma armadilha.

“Já sabemos que a volta ao uso, mesmo de forma moderada, é um fator de risco para reinstalação da síndrome de dependência do álcool”, explica o psiquiatra Tiago Queiroz, especialista em dependência química. Ele ressalta que, assim como qualquer doença, o alcoolismo não tem cura. E José, que recebe convites para beber diariamente (e recusa todos), sabe bem disso. “Quando comecei no AA, vi que o alcoolismo não tem a ver com safadeza e nem com irresponsabilidade, como é visto pela sociedade. É uma doença progressiva, incurável e que pode ser fatal.”

"Graças ao AA, recuperei a minha dignidade, a família e a vida profissional", conta Suzana, que comemora 12 anos de sobriedade (Foto: Bobby Fabisak /JC Imagem) "Graças ao AA, recuperei a minha dignidade, a família e a vida profissional", conta Suzana, que comemora 12 anos de sobriedade (Foto: Bobby Fabisak /JC Imagem)

Diagnóstico do alcoolismo

O psiquiatra Tiago Queiroz explica que, diferentemente do que muita gente pensa, a frequência com que a pessoa bebe não é decisiva para dar o diagnóstico de alcoolismo. “Compulsão pela bebida, dificuldade em controlar o uso, progressão do hábito de beber, necessidade de realizar só atividades associadas a bebidas e persistência do uso diante de consequências negativas impostas pela embriaguez são fatores que devem ser considerados”, diz o médico.

A professora Suzana*, 54 anos, precisou vivenciar um leque imenso de efeitos devastadores causados pelo alcoolismo para perceber que precisava de ajuda. “E eu era uma bebedora de fim de semana. Não bebia todos os dias. Mas, quando começava a beber, perdia o controle de tudo”, conta Suzana. “Vi que algo estava muito errado quando passei a ter apagões de memória por causa da bebedeira abusiva. Procurei ajuda do AA com meus próprios pés. Encontrei explicação para o sofrimento de toda uma vida”, relata Suzana. Ela conta que, pelo alcoolismo, o casamento, a profissão e as amizades foram destruídas.

“Além disso, passei por falência emocional e financeira. Mas graças ao AA, recuperei a minha dignidade, a família e a vida profissional. Hoje me sinto bem e tenho bom relacionamento com o mundo. Não sou mais aquela mulher agressiva, arrogante e prepotente por causa do alcoolismo”, diz Suzana, que comemora os 12 anos de sobriedade.

* Nomes dos personagens são fictícios

Em geral, 1 em cada 10 membros de AA é do sexo feminino (André Nery/JC Imagem) Em geral, 1 em cada 10 membros de AA é do sexo feminino (André Nery/JC Imagem)

Procure ajuda do AA

O único requisito para ser membro do AA é o desejo de parar de beber, sem a necessidade de pagar taxas ou mensalidades. Durante reuniões, compartilha-se experiências relacionadas ao sofrimento e recuperação do alcoolismo. Membros de AA também podem fazer visitas domiciliares e ainda ministrar palestras educativas em empresas, escolas e demais instituições. Para encontrar um grupo em Pernambuco: 81 3221-3592 e 81 3221-1555. Sites: www.aa-area06pe.org.br e www.alcoolicosanonimos.org.br.

Exposição de alcoólicos anônimos no Recife

Até a sexta-feira (12/6), das 8h às 17h, na Estação Central do Metrô

Números do AA

– 180 países contam com grupos de AA

– 117 mil grupos estão espalhados ao redor do mundo

– 2 milhões de pessoas no mundo são membros de AA

– 6 mil grupos estão no Brasil

– 430 estão em Pernambuco

– 320 no Grande Recife

– 1 em cada 10 membros de AA em Pernambuco é do sexo feminino

Conheça como é a sua relação com a bebida alcoólica

Faça o teste abaixo, que indica se o programa de recuperação de AA pode ajudá-lo. Este teste foi produzido pelo próprio AA. Se a pontuação der 33% ou um percentual maior, é provável que você tenha problemas com o álcool.