Pesquisadores organizam força-tarefa para avançar na prevenção da esquizofrenia

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/05/2015 às 15:00

O psiquiatra Rodrigo Bressan é um dos pesquisadores do consórcio (Foto: Cinthya Leite) O psiquiatra Rodrigo Bressan é um dos pesquisadores do consórcio (Foto: Cinthya Leite)

Da Agência Fapesp

A esquizofrenia tem sido considerada uma distúrbio do neurodesenvolvimento - ou seja, causado por uma complexa interação de fatores genéticos e ambientais que se inicia ainda na vida intrauterina, o que pode resultar em alterações na estrutura e no funcionamento do cérebro. Porém, em geral, os médicos só costumam entrar em contato com as pessoas que convivem com esse transtorno mental depois que elas manifestam o primeiro episódio de psicose. Isso costuma ocorrer no início da idade adulta, quando praticamente nada mais pode ser feito em termos de prevenção.

Com o objetivo de mudar esse paradigma, um grande esforço conjunto vem sendo feito por pesquisadores de instituições como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) e o Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes (INPD) – um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

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O trabalho foi apresentado durante a FAPESP Week UC Davis in Brazil pelo professor Rodrigo Affonseca Bressan, diretor do Laboratório de Neurociências Clínicas (LiNC) da Unifesp.

“Fazendo um paralelo com as doenças cardiovasculares, hoje sabemos que muitos eventos precedem um infarto, como alterações nos níveis de colesterol e obstrução de vasos sanguíneos. A cardiologia só passou a ter impacto significativo em termos de redução de mortes e incapacitação quando começou a atuar na prevenção. Para isso, foi preciso entender o que acontecia no sistema cardiovascular antes do infarto e qual era o impacto dos fatores de risco”, diz Bressan.

De acordo com o pesquisador, o primeiro episódio de psicose pode ser considerado a metade do processo de desenvolvimento e de cronificação da esquizofrenia. “Há uma fase que podemos chamar de pré-mórbida ou assintomática, outra fase considerada de risco para o desenvolvimento de sintomas psicóticos e depois a evolução da esquizofrenia propriamente dita e a resistência ao tratamento”, explica Bressan.

Quando se estuda apenas aqueles pacientes que já têm o quadro psicótico estabelecido, acrescenta o pesquisador, torna-se impossível saber se as alterações estruturais e funcionais observadas no cérebro por meio de exames de imagem são causa ou consequência da doença.

Na tentativa de compreender melhor cada etapa de desenvolvimento do transtorno, o consórcio de pesquisa adotou uma abordagem multistage-multimodal (abordagem multimodal em todos os estágios do transtorno), que consiste em avaliar diferentes conjuntos de pessoas (coortes) por metodologias variadas. São usados recursos como ressonância magnética estrutural e funcional, análises epigenéticas (expressão gênica e metilação de DNA), de marcadores inflamatórios e neuroprotetores, além de análises cognitivas e comportamentais.

O trabalho conta com apoio da Fapesp através do projeto Prevenção na esquizofrenia e no transtorno bipolar da neurociência à comunidade: uma plataforma multifásica, multimodal e translacional para investigação e intervenção, coordenado por Bressan.

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