Diagnóstico de artrite reumatoide é lento para 43% dos pacientes brasileiros e causa incapacidade física

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 10/05/2015 às 19:40

Doença causa deformidades nas articulações, além de fortes dores Doença causa deformidades nas articulações, além de fortes dores e restrição dos movimentos. Foto: reprodução

Por Marília Banholzer*

Sentir muita dor nas articulações, peregrinar por unidades de saúde - públicas ou privadas -, passar por pelo menos menos três médicos num período de dois anos para tentar descobrir qual o seu problema de saúde. Essa é a realidade de 43% dos 2 milhões de brasileiros que foram diagnosticadas,atualmente, com artrite reumatoide, doença inflamatória crônica que prejudica todas as “dobras” do corpo, causando deformações, incapacidade física e até amputações. Os dados são de uma pesquisa pioneira sobre esse mal realizada pela Pfizer e conduzida pelo Instituto Ipsos em cinco capitais do País: Recife, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre. As informações do levantamento foram divulgadas na última quinta-feira (7), na capital paulista.

O levantamento “Não ignore sua dor: pode ser artrite reumatoide” ouviu 200 pacientes e revelou que, entre as cidades pesquisadas, Recife é aquela na qual os pacientes descobrem em menos tempo o mal que lhes aflige. Na capital pernambucana, 65% dos doentes descobrem em menos de um ano que é portador de artrite reumatoide. Em seguida aparecem São Paulo (60%), Belo Horizonte (55%), Rio (43%) e Porto Alegre (25%). A pesquisa ainda aponta que, entre as pessoas que descobriram a doença nos primeiros 12 meses, a maioria (76%) frequentava consultórios particulares.

Arte: Guilherme Castro/NE10

Embora a realidade dos recifenses seja menos “dolorosa” do que a dos pacientes de outras cidades, os médicos alertam para a importância do diagnóstico precoce, ou seja, até três meses após as primeiras dores articulares. Segundo o reumatologista Cristiano Zerbini, professor da Universidade de São Paulo (USP), “quanto mais precoce o tratamento, menor é o dano estrutural e menor é a incapacidade física dos pacientes”.

Foto: Marília Banholzer/NE10 Reumatologista Cristiano Zerbini alerta que as mão, geralmente, são os membros que mais sofrem com a artrite reumatoide. Foto: Marília Banholzer/NE10

A reumatologista Rina Giorgi, diretora do Serviço de Reumatologista do Hospital do Servidor Público de São Paulo, alerta para a alta incidência da doença entre as mulheres. “É um mal de alta prevalência, crônico e debilitante. Afeta principalmente as mulheres e se manifesta por volta dos 40 anos, idade em que a pessoa está no pico de sua vida produtiva”, ressaltou.

A dona de casa Ivone Ferreira Moreira, 64 anos, não conhecia a doença até ser diagnosticada com artrite reumatoide em 2001. Segundo ela, apesar de haver precisado buscar diversos serviços de saúde e passar por sete médicos até encontrar a resposta para suas fortes dores no corpo, a parte mais difícil no seu tratamento foi descobrir qual a melhor medicação para reduzir os sintomas da doença.

Foto: Marília Banholzer/NE10 Dra. Rina Giorgi ressalta que a artrite reumatoide é uma doença com possibilidade de remissão dos sintomas desde que o diagnóstico seja precoce. Foto: Marília Banholzer/NE10

“Tomei diversos remédios até chegar no que estou usando hoje [metotrexato], que é injetável. As dores eu comparo com uma dor de dente suportável que você não sabe mais o que fazer para acabar com ela e só dorme por causa do cansaço. Ninguém imagina como é, só sabe quem passa. Eu não desejo para ninguém. Tinha medo da depressão; até porque quando, você sente dor, só pensa em ficar deitada na cama”, comentou Ivone Ferreira. Atualmente, os medicamentos usados para combater os sintomas da doença são fornecidos pelo Sistema Único de Saúde, que arcam com um custo médio de R$ 4.700 por pessoa.

NOVO MEDICAMENTO - Os pacientes com artrite reumatoide, no entanto, celebram uma novidade que acaba de chegar ao Brasil e começa a ser comercializada esta semana. O novo medicamento desenvolvido pela Pfizer foi batizado de Xeljanz e é indicado para adultos com a doença na fase moderada a grave e que tiveram intolerância ou não responderam aos tratamentos sintéticos ou biológicos. Administrado via oral, o remédio precisou de cerca de 20 anos para ser desenvolvido. Ele age inibindo uma proteína chamada de janus quinase, importante nos processos inflamatórios característicos da enfermidade. A empresa farmacêutica considera a pílula como um avanço importante no tratamento das pessoas diagnosticadas com a artrite reumatoide.

Antes de ser aprovado, o medicamento passou por testes que envolveram 5.700 pessoas em 40 países, entre elas a dona Ivone Ferreira. Há cinco anos ela toma o Xeljanz duas vezes por dia e revela ter notado uma grande melhora em seu quadro clínico. “Quando entrei na pesquisa, só pensava que não aguentava mais aquelas dores. Eu faria qualquer coisa para acabar com aquilo. Não queria ser uma pessoa incapaz, dependente. Foi um milagre ter entrado nesse programa”, disse a paciente.

Diretor médico da Pfizer afirma que novo medicamento está no mercado na segunda semana de maio. Foto: Marília Banholzer/NE10 Diretor médico da Pfizer Brasil, Eurico Correia afirma que novo medicamento está no mercado nesta segunda semana de maio. Foto: Marília Banholzer/NE10

“Xeljanz apresenta o mesmo perfil de eficácia e segurança dos medicamentos biológicos, mas com a comodidade de ser oral. Além disso, ele trouxe benefícios até para aqueles que já não respondiam aos demais produtos. O preço dele também será menor que a média paga pelo SUS para os demais tratamentos de artrite reumatoide”, explicou Eurico Correia, diretor médico da Pfizer Brasil. O novo produto custará R$ 3.450 e a empresa farmacêutica está em negociação com o Governo Federal para inseri-lo na gama de tratamentos de alto custo fornecidos pelo serviço público.

* Repórter viajou a convite da Pfizer Brasil