Carrinhos de supermercado são reduto de bactérias que podem causar doenças

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 30/04/2015 às 11:54

Ideba avaliou a qualidade da higienização nos carrinhos de supermercado e revelou que 100% das amostras analisadas estavam contaminadas (Foto: Edmar Melo/JC Imagem) Ideba avaliou a qualidade da higienização nos carrinhos de supermercado e revelou que 100% das amostras analisadas estavam contaminadas (Foto: Edmar Melo/JC Imagem)

Eis um detalhe que a gente pouco considera: os carrinhos e cestos de compras dos supermercados são reduto de bactérias, que podem causar doenças como diarreia, gripe, conjuntivite e infecções mais graves, como aconteceu com a engenheira de alimentos Leide Teixeira. Enquanto fazia compras, ela bateu o carrinho acidentalmente no seu pé, o que causou um pequeno corte. “Quatro dias depois, fui internada em estado grave em uma unidade de tratamento semi-intensivo com infecção generalizada e passei por três cirurgias no pé”, conta Leide.

Segundo ouviu dos médicos, a bactéria (Staphylococcus) transferida na colisão entrou na corrente sanguínea, alojando-se ainda no seu coração e causando uma endocardite bacteriana. “Foram 55 dias no hospital e mais quatro meses de reabilitação para superar o trauma e retomar a vida. E fiquei com sequelas no coração”, lembra a engenheira.

Relatos como esse estimularam a empresa de higienização profissional Indeba a desenvolver um estudo inédito sobre os riscos à saúde causados pela falta de limpeza em carrinhos e cestos de compras dos supermercados no País. Os achados da pesquisa serão apresentados, nesta sexta-feira (1º/5), durante o 7º Congresso Latino-Americano e 13º Congresso Brasileiro de Higienistas de Alimentos, que começou na última terça-feira (28/4) em Búzios (RJ).

O laboratório de Microbiologia da Indeba, único do setor com acreditação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), avaliou a qualidade da higienização nos carrinhos de supermercado e métodos adequados de limpeza. Verificou-se que 100% das amostras analisadas estavam contaminadas com bactérias que podem causar doenças.

De acordo com a responsável técnica do Laboratório de Microbiologia da Indeba, Maria de Deus dos Reis, infecções como essa podem ser evitadas pelo estabelecimento. Com o procedimento adequado de limpeza (lavagem dos carrinhos com esponja e detergente neutro), é possível reduzir em 80% o número de unidade de formação de colônia (UFC) por placa, o que diminui a possibilidade de contaminações.

Segundo a especialista, o homem é o maior agente transmissor de germes. “A transferência do microrganismo pode ocorrer entre humanos por meio de uma superfície, seja por simples contato ou percutânea, quando fere e alcança a corrente sanguínea, o que acomete especialmente pessoas com baixa imunidade”, explica Maria de Deus.

As amostras foram coletadas entre junho e outubro de 2014 em dois grandes supermercados de Salvador. As coletas foram realizadas antes e após a higienização em três pontos diferentes: alça onde segura para empurrar o carrinho, o cesto onde se colocam os itens e o eixo de sustentação das rodas, totalizando 180 amostras.

Os clientes também precisam estar atentos ao circular pelos estabelecimentos, lavar bem as mãos antes e após tocar em objetos de uso coletivo, não utilizar carrinhos danificados, enferrujados, descascados e ou com sujidade aparente. E mais: não se deve colocar crianças dentro dos carrinhos. É importante ainda evitar a colocação do alimento em contato direto com superfícies do supermercado.