Sem chances para a hipertensão, uma inimiga silenciosa

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 26/04/2015 às 7:00
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Disciplinada, Mércia não abre mão de praticar exercícios para manter a hipertensão sob controle (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem) Disciplinada, Mércia não abre mão de praticar exercícios para manter a hipertensão sob controle (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

Cerca de 17 milhões de brasileiros convivem com doenças cardiovasculares, que podem resultar em infarto, acidente vascular cerebral e morte súbita. No topo dos fatores de risco que contribuem para o desenvolvimento dessas enfermidades está a hipertensão arterial, que acomete 30% da população brasileira e é perigosa pelo fato de não apresentar sintomas. Por isso, cerca de 50% dos hipertensos não sabem que têm a doença. Geralmente, a pessoa só descobre ao aferir a pressão arterial ou sofrer um AVC.

Para orientar a população sobre a importância de adotar hábitos saudáveis, capazes de afastar as chances de aparecimento das doenças cardiovasculares, médicos se engajam neste domingo (26/4) em ações educativas que fazem alusão ao Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial. Convencer o paciente a seguir corretamente o tratamento é o maior desafio enfrentado pelos cardiologistas porque a pressão alta geralmente não vem acompanhada de dor ou qualquer outro incômodo, o que leva a pessoa a acreditar que está tudo bem com a saúde.

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Provar que as consequências da pressão alta são, em muitos casos, fatais é uma arma para mudar um cenário preocupante: do universo de pacientes que já recebeu o diagnóstico, apenas 25% aderem ao tratamento. “A hipertensão é assintomática, mas é agressiva. Transmitir esse recado é difícil. Como os pacientes não sentem indisposição ou qualquer outro sinal que indique doença, muitos não veem motivo para tomar medicação ou seguir um estilo de vida saudável”, lamenta o cardiologista Hilton Chaves, coordenador da Clínica de Hipertensão do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE).

Saiba mais sobre hipertensão Investir em comprometimento para afastar os picos da pressão arterial é a melhor receita que o paciente pode seguir.

Para quem não segue o tratamento, a doença é um perigo. Cerca de 80% das pessoas que sofrem um derrame cerebral têm hipertensão e até 60% das vítimas de infarto também apresentam pressão alta. Por outro lado, aqueles que seguem uma terapêutica conseguem viver bem com a doença.

Felizmente, a agente administrativa aposentada Mércia Melo, 63 anos, não se enquadra nesse percentual. Ela contou com a sorte para receber o diagnóstico da doença. “Estava caminhando ao ar livre quando vi uma campanha de alerta. Resolvi aferir minha pressão. Estava 17 por 12. Fui ao médico e fiz exames complementares, que confirmaram a hipertensão”, conta Mércia, que é disciplinada. “Tomo os remédios, tenho uma boa alimentação e faço exercícios todos os dias, pois sei que o sedentarismo faz muito mal. Hoje, minha pressão não passa de 12 por 8.”

Diferentemente de Mércia, muitos pacientes deixam de tomar remédio por conta própria porque acham que não há necessidade. “Ainda há outra parcela que resiste em mudar o estilo de vida. E mudar hábitos é tão importante quanto tomar a medicação corretamente”, diz o cardiologista Silvio Paffer, diretor médico do Centro Médico Ermírio de Moraes, referência no tratamento da hipertensão.

Localizada no bairro de Casa Forte, Zona Norte do Recife, a unidade fornece atendimento a pacientes que têm uma hipertensão mais resistente à terapêutica medicamentosa e que, além dos picos de pressão arterial, convivem com outras doenças, como diabetes. “Acolhemos cerca de 5 mil hipertensos por mês.”

Entre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença, Silvio lista sobrepeso, consumo excessivo de sal, sedentarismo, tabagismo, ingestão de bebida alcoólica e diabetes. “O estresse também tem uma parcela de culpa, especialmente quando associado a algum desses fatores”, alerta o médico. Outro detalhe está ligado à hereditariedade: filhos de hipertensos têm mais chances desenvolver à doença, em comparação às pessoas que não têm caso na família.

Vale frisar que, para diagnosticar a hipertensão, é necessário aferir a pressão arterial por três vezes, com intervalo de dois minutos entre cada medição. “Ainda assim, o médico pode solicitar um exame mais preciso, chamado de monitorização ambulatorial da pressão arterial. É um método bem seguro para detectar a doença”, diz Hilton Chaves.

A partir dessa técnica, a aferição da pressão arterial é automática. O paciente fica com um dispositivo por 24 horas acoplado à cintura e que faz medidas a cada 15 ou 20 minutos. Confirmado o diagnóstico da hipertensão, o tratamento é para a vida toda. Investir em comprometimento para afastar os picos da pressão arterial é a melhor receita que o paciente pode seguir.