Câncer de pênis: amputação parcial do órgão pode levar à impotência sexual

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 20/04/2015 às 6:00
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A prevenção do câncer de pênis é simples. Basta ter higiene adequada da área genital, lavando com água e sabão  (Foto: Free Images) A prevenção do câncer de pênis é simples. Basta ter higiene adequada da área genital, lavando com água e sabão (Foto: Free Images)

Frequente na população masculina que vive em situação de vulnerabilidade social, o câncer de pênis acomete 100 mil homens em todo o mundo. No Brasil, a doença representa cerca de 2% de todos os tipos de tumor que atingem o homem. Ainda em território nacional, esse tipo de tumor é responsável por mil amputações por ano do pênis. Um detalhe importante é que a amputação parcial do pênis (tratamento cirúrgico da doença) pode levar à disfunção erétil, popularmente conhecida como impotência sexual e caracterizada pela dificuldade persistente de se obter e/ou manter uma ereção capaz de permitir atividade sexual adequada.

Esse é um dos achados de uma pesquisa do urologista Leonardo Lima Monteiro, do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), que atende cerca de 55% dos pacientes oncológicos de todo o Estado. Ao analisar 40 pacientes da unidade que se submeteram à amputação parcial do pênis, ele constatou que esse tipo de cirurgia, também chamada de penectomia, afeta a função erétil. O estudo do médico foi selecionado para ser apresentado no Congresso Americano de Urologia (AUA Annual Meeting), considerado mundialmente o maior evento da área.

"Produzimos um trabalho com importância social para a nossa região e com qualidade científica. Assim, apresentar nossa pesquisa no congresso de maior relevância para a urologia é um prêmio pelo nosso empenho", acredita Leonardo.

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Durante o encontro, realizado de 15 a 19 de maio, em Nova Orleans (EUA), Leonardo apresentará que 62,5% dos pacientes que tiveram o pênis parcialmente amputado, com média de idade de 61 anos, queixam-se de disfunção erétil. “Também observamos que, entre esses homens, a impotência sexual se apresenta em intensidades moderada e grave, diferentemente do grupo-controle, formado por uma parcela masculina que não se submeteu à penectomia e que tem disfunção erétil leve, em torno de 26% dos entrevistados", diz o urologista.

"O abalo psicológico que geralmente acompanha a mutilação do pênis é intenso. Por isso, muitos homens têm dificuldade para ter atividade sexual", diz Leonardo (Foto: Diego Nigro/JC Imagem) "O abalo psicológico que geralmente acompanha a mutilação do pênis é intenso. Por isso, muitos homens têm dificuldade para ter atividade sexual", diz Leonardo (Foto: Diego Nigro/JC Imagem)

Vale frisar que, nos casos em que a cirurgia preserva parte do órgão, o paciente tem chances de conseguir manter uma ereção, porém com diminuição do tamanho peniano. “O problema é que o abalo psicológico que geralmente acompanha a mutilação do pênis é intenso. Por esse motivo, muitos homens têm dificuldade para ter atividade sexual”, ressalta Leonardo.

A pesquisa, desenvolvida durante o mestrado em ciências da saúde realizado na Universidade de Pernambuco (UPE), também considerou outras variáveis que influenciam a impotência sexual. Como a taxa de prevalência da disfunção erétil tem estreita relação com problemas de saúde epidêmicos, o médico investigou a presença de diabete, hipertensão arterial e tabagismo na população estudada. “São algumas das condições que interferem na atividade sexual.”

Números da pesquisa

– 62,5% dos pacientes que se submeteram à penectomia parcial relataram disfunção erétil

– 40% dos homens penectomizados fumam

– 17,5% têm diabete tipo 2

– 45% convivem com hipertensão arterial

– 42% com dislipidemia (caracterizada pela presença de níveis elevados de colesterol e triglicérides)

Prevenção do câncer de pênis

A prevenção do câncer de pênis pode ser feita através de hábitos simples. Na maioria dos casos, basta lavar o órgão sempre com água e sabão – a conduta deve ser adotada na hora do banho e após a relação sexual.

O sinal de alerta deve acender a partir da presença de uma ferida no pênis que não cicatriza e que pode sangrar. Outros sinais são manchas no órgão persistentes. Diante dessas situações, o recomendado é procurar um urologista.

Lamentavelmente, 50% dos pacientes aguardam um ano para marcar uma consulta a partir do momento que percebem lesões ou manchas no órgão.