Enxaqueca pode prejudicar atenção e memória, diz estudo da Unifesp

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 15/04/2015 às 6:00
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Pacientes com a doença podem ter o processamento das informações auditivas prejudicadas  (Foto: Free Images) Pacientes com a doença podem ter o processamento das informações auditivas prejudicadas (Foto: Free Images)

Pessoas que sofrem com a enxaqueca podem ter a atenção e memória auditiva comprometidas. É o que revela uma pesquisa conduzida pelo Setor de Investigação e Tratamento das Cefaleias (SITC) e pelo Ambulatório de Neuroaudiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo observou maior prevalência de alteração no processamento das informações auditivas nos pacientes com enxaqueca.

A doença atinge 15,2% de pessoas no Brasil e é mais frequente em mulheres e em indivíduos com ensino superior. Com o estudo, foi possível verificar o impacto da enxaqueca no indivíduo que não faz nenhum tipo de tratamento preventivo, apenas se utiliza de analgésicos nas crises. As evidências levantadas são de que esses pacientes podem apresentar déficits cognitivos, com a memória e a atenção para as informações auditivas afetadas.

A neurologista chefe do SITC da Unifesp, Thais Rodrigues Villa, uma das orientadoras da pesquisa, explica que a ideia do estudo se deu através da observação da falta de atenção e memorização das informações demonstrada pelos pacientes durante as consultas. "A pessoa ouve normalmente, mas está menos atento àquilo que escuta. Com isso, a memorização das informações fica prejudicada, e a compreensão do seu diagnóstico e tratamento também. Os pacientes frequentemente queixam-se de desatenção e esquecimentos no dia a dia."

A fonoaudióloga Larissa Mendonça Agessi, autora da pesquisa, selecionou 41 pacientes voluntários, entre 18 e 40 anos, de ambos os sexos, e os dividiu em três grupos:

1) 11 pessoas com enxaqueca com aura (crises de cefaleia acompanhadas de sintomas visuais e sensitivos como flashes luminosos, pontinhos brilhantes, embaçamento visual, formigamentos, dormência, dificuldade em falar, tonturas, vertigem, entre outros indícios que podem aparecer antes, durante e após a crise). Esses sintomas duram de minutos até uma hora usualmente.

2) 15 pessoas com enxaqueca sem aura.

3) 15 pessoas no grupo-controle, que negavam cefaleia no último ano ou nunca tiveram.

Também foi considerada a escolaridade de cada indivíduo. As pessoas com quadro de enxaqueca apresentavam, em média, de cinco a seis dias de crise no mês e foram avaliados sem estar com dor de cabeça há, no mínimo, três dias - ou seja, fora do período de uma crise de enxaqueca.

Das 26 pessoas com enxaqueca analisadas, 21 apresentaram problemas com o processamento auditivo. “Concluímos que pessoas com enxaqueca têm audição normal, mas podem apresentar maior dificuldade para prestar atenção e memorizar o que foi ouvido, em comparação às pessoas que não têm dor de cabeça. Para quem sente muita dor de cabeça, pede sempre para as pessoas repetirem o que falam ou esquece frequentemente o que lhe foi dito, recomendo que busque um neurologista e um fonoaudiólogo”, ressalta Larissa.

Os pacientes que participaram do estudo tiveram a oportunidade de iniciar o tratamento no SITC e no Ambulatório de Neuroaudiologia da Unifesp.