Qualidade de vida de enfermeiros do Samu é comprometida por má condição de trabalho

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/04/2015 às 6:00
Profissionais do Samu_destaque FOTO:

Enfermeiros do Samu vivenciam tensão por trabalhar constantemente em situações de emergência e risco de morte iminente (Foto: Helia Scheppa/Acervo JC Imagem) Enfermeiros do Samu vivenciam tensão por trabalhar constantemente em situações de emergência e risco de morte iminente (Foto: Helia Scheppa/Acervo JC Imagem)

Oferecido pelo governo federal, em parceria com governos estaduais e municipais, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) tem como objetivo promover a redução do número de óbitos, tempo de internação em hospitais e sequelas decorrentes da falta de socorro precoce. Esse cuidado, contudo, não se estende aos profissionais que atuam no serviço.

"A tensão é vivenciada constantemente por essas  pessoas que trabalham com situações de emergência que favorecem risco de morte iminente", afirma a enfermeira assistencial Geovanna Pereira da Silva. Ela é autora da dissertação Qualidade de vida dos enfermeiros que prestam assistência através do Samu, orientada pelo professor René Duarte Martins e co-orientada pelo professor Darlindo Ferreira de Lima. O estudo foi apresentado no Programa de Pós-Graduação em Saúde Humana e Meio Ambiente do Centro Acadêmico de Vitória da Universidade Federal de Pernambuco (CAV/UFPE).

O tema do estudo de Geovanna surgiu da própria vivência da pesquisadora como enfermeira assistencialista do Samu. Por meio da pesquisa de abordagem qualitativa, ela ouviu oito enfermeiros assistenciais do serviço da cidade de Olinda, Região Metropolitana do Recife. "Constatei que muitos profissionais de enfermagem atuantes nesse serviço relatavam constantemente inúmeras queixas em relação a condições de trabalho e aspectos ligados à atividade profissional que interferiam na vida pessoal, social e familiar", afirma.

Além disso, muitos dos enfermeiros que participaram da pesquisa afirmaram sair estressados do ambiente de trabalho. "Relataram também que o acúmulo de vínculos empregatícios e, consequentemente, a elevada carga horária de trabalho semanal reduzem o tempo que eles podem realizar atividades de lazer e conviver com a família e amigos, o que diminui a qualidade de vida", diz Geovanna.

De acordo com a pesquisa, o resultado dessa equação é simples: quanto maior o nível de estresse, menor o bem-estar dos profissionais que atuam no Samu. Segundo os profissionais ouvidos pela pesquisadora, os principais responsáveis pela elevação do nível de estresse são a estrutura física do ambiente de trabalho, a falta de recursos humanos e materiais para o desempenho de suas atividades, a baixa remuneração, o acúmulo de tarefas e a carga horária elevada.

Mesmo com os pontos negativos apontados pelo estudo, os profissionais demonstraram satisfação na atividade que desempenham. “Isso está ligado ao fato de eles gostarem da profissão e das atividades que desempenham. Além disso, eles se sentem bem ao poder ajudar o paciente em situações críticas, mesmo atuando em condições desfavoráveis”, destaca.

A partir dos resultados encontrados com o estudo, Geovanna espera poder contribuir para uma maior reflexão sobre as condições de trabalho enfrentadas pelos profissionais do Samu.