Não dê brecha para a síndrome do pavio curto. Distúrbio exige tratamento, diz especialista

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/04/2015 às 9:00
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Raiva (Foto: Free Images) Quem tem a síndrome do pavio curto geralmente adota um comportamento desproporcional ao evento que provocou um ataque de raiva (Foto: Free Images)

Ataques de fúria e dificuldade de lidar com a raiva são características muito comuns em pessoas explosivas que, a depender do grau, podem ter transtorno explosivo intermitente (TEI). O distúrbio, popularmente conhecido como síndrome do pavio curto, é caracterizado pela reação exagerada a frustrações no cotidiano.

"Todos nós temos o que chamamos de atos de vontade. Primeiramente, temos a intenção. Depois, ponderamos sobre aquilo que intencionamos fazer. Então, deliberamos sobre o que vamos fazer e só depois a gente efetivamente age. Algumas pessoas agem de maneira impulsiva e cortam essas etapas. É o que chamamos de atos impulsivos, que depois geram arrependimentos e situações desvantajosas", explica o psiquiatra Amaury Cantilino, doutor em neuropsiquiatria e ciências do comportamento.

Para que se considere uma síndrome, a periodicidade dos eventos agressivos deve tomar grandes proporções. "Tem que acontecer repetidas vezes. Não é algo que acontece uma vez por ano; acontece corriqueiramente, como uma vez na semana. Em geral, envolve uma atitude mais grosseira e agressiva com o outro. É um comportamento desproporcional ao evento que provocou tal atitude", esclarece Cantilino.

Psiquiatra Amaury Cantilino alerta que pessoas com o distúrbio pulam etapas nos atos de vontades (Foto: Felipe Ribeiro/Acervo JC Imagem) Psiquiatra Amaury Cantilino alerta que pessoas com o distúrbio pulam etapas nos atos de vontades (Foto: Felipe Ribeiro/Acervo JC Imagem)

Entre as principais causas, está a mescla do fator genético com o ambiental. "Há um peso genético, em encontramos concordância grande entre familiares. Existe também o componente ambiental, que tem relação com povos específicos ou com o ambiente familiar. Geralmente são pessoas que foram menos ensinadas a lidar com situações de frustração."

Um fator biológico também pode ter relação com o desenvolvimento da síndrome. Pessoas que têm o córtex pré-frontal (parte do cérebro responsável pela tomada de decisão) menos ativo tendem a ter atos mais impulsivos. "Em geral, começa-se a perceber alguma característica na adolescência, mas consideramos que esses ataques podem fazer parte do desenvolvimento do adolescente, já que o córtex pré-frontal só amadurece totalmente por volta dos 21 anos. Se, depois dessa fase, os ataques perdurarem e provocarem desvantagens sociais, é sinal de que a pessoa precisa de tratamento", orienta o psiquiatra.

O tratamento geralmente envolve o uso de medicação e a psicoterapia. O paciente deve ser acompanhado por um psicólogo ou psiquiatra que tenha especialização em alguma linha de psicoterapia dirigida ao controle de impulsos.