O processo de preparação para o fim da licença-maternidade é indispensável

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 01/10/2014 às 21:41
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Com João Antonio no canguru (Foto: Arquivo pessoal) Com João Antonio no canguru (Foto: Arquivo pessoal)

Há um mês e meio, sentia um friozinho na barriga só de pensar no dia de hoje: o primeiro de trabalho após a licença-maternidade. Foi batendo uma angústia em mim antes do tempo. Sim, ninguém acredita, mas sou ansiosa demais. Desde então, tomei a decisão de que teria que começar a trabalhar isso dentro de mim o quanto antes. Assim, foi há exato um mês e meio que comecei a me preparar para a volta à labuta.

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O período de licença-maternidade se concretizou nos 5 meses mais intensos e deliciosos da minha vida. E, por isso, quando me dei conta de que a rotina de mãe integral estava prestes a terminar, comecei a ficar muito abalada. Mas, ao mesmo tempo, vi que não poderia ser assim, pois eu amo o meu trabalho, que me torna uma mulher feliz e produtiva. Além disso, passei a pensar que essa “separação” seria saudável para mim e para João Antonio, que hoje está com 4 meses e 27 dias.

Nesse contexto, há um mês e meio, iniciei uma série de mudanças no dia a dia do meu bebê, que passou a ser chamado de #bolinhadeleite por aqui, nas redes sociais. Na realidade, todo o processo começou quando eu decidi que teria uma babá para cuidar dele na minha ausência.

Então, quando ele fez 3 meses, contratei uma babá. Mas confesso que fiquei meio perdida para orientá-la com algumas coisas, pois sempre tive em mente que essa profissional é um apoio e, por isso, não devemos delegar a ela a maior parte dos cuidados da criança. Aos poucos, contudo, fomos nos entendendo e, a cada dia, eu deixava ela estar mais presente na rotina de João Antonio.

Costumo dizer que, como sofri por antecipação, não senti muito o primeiro dia de volta ao trabalho (Foto: Arquivo pessoal) Costumo dizer que, como sofri por antecipação, não senti muito o primeiro dia de volta ao trabalho (Foto: Arquivo pessoal)

Pessoas da família que também vêm nos visitar bastante passaram a fazer parte desse quadro de adaptação, pois passaram a aprender a esterilizar as coisas, a descongelar o leite materno, a dar mamadeira a João Antonio, a dar banho, a brincar com ele no tapetinho de atividades e a colocá-lo para dormir. Também aprendi a tirar, armazenar, congelar e usar o leite materno com muita segurança (saiba mais aqui) e, assim, fiquei certa de que todos os dias João Antonio tomaria o meu leite. Outra coisa que ajudou foi fazer um roteiro para a babá de todos os cuidados que ela já conhecia. Na dúvida, ela pode sempre recorrer a cartilha que fiz. Também imprimi uma tabela para ela deixar tudo anotado: alimentação, sonecas, banhos, atividades...

Como fiz tudo aos pouquinhos, ele praticamente não estranhou o processo de adaptação. Na primeira semana, deixei a babá e as demais pessoas darem banho nele. Na segunda semana, passaram a brincar mais com ele e, por último, a dar a mamadeira. Há duas semanas antes do meu retorno ao trabalho, eu passei a sair todos os dias. Antes disso, eu até saía de casa, mas não conseguia passar mais de duas horas longe dele. Então, a meta foi aumentar esse tempo. Na véspera do meu retorno, ontem, tive que ministrar uma aula de 4 horas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, como é longe da minha casa, precisei sair com 1 hora de antecedência. Ou seja, passei 6 horas longe dele e fique muito bem.

Mais tranquila 

Dessa maneira, hoje, no dia do meu retorno, já saí de casa mais tranquila, sabendo que meu filho ficaria bem (até porque a vovó materna de João Antonio se ofereceu para, neste comecinho, vir para minha casa todos os dias) e eu também. E deu tudo certo: ele se alimentou bem, não chorou, brincou e tirou as sonequinhas. A mamãe aqui também se comportou e ligou para casa apenas duas vezes porque sabia que #bolinhadeleite estava num ambiente seguro e tranquilo.

Apesar de toda esse serenidade, eu fiz o trajeto casa/trabalho com os olhos cheios de lágrimas. Afinal, o bebê passa aproximadamente 280 dias na nossa barriga e ainda todo o período da licença (no meu caso, 150 dias) grudadinho com a gente. Impossível não criar um apego imenso a ele. Além disso, a dedicação em tempo integral vira uma rotina e, dessa maneira, sentimos muito essa “separação”.

As mães mais experientes têm mesmo razão. A gente sobrevive ao fim da licença-maternidade (Foto: Arquivo pessoal) As mães mais experientes têm mesmo razão. A gente sobrevive ao fim da licença-maternidade (Foto: Arquivo pessoal)

Costumo dizer que, como sofri por antecipação, não senti muito o primeiro dia de volta ao trabalho. Foi uma delícia chegar à redação e conversar com outras colegas mães que já passaram por isso. Por ainda amamentar, tenho o direito de largar uma hora mais cedo. E quando espiei o relógio, já estava na hora mesmo de voltar para casa. O trânsito me deixou um pouco tensa... Quando saí do carro, vi que ele me esperava com minha mãe na garagem do prédio. Escutou a minha voz e já começou a bater as perninhas, expressando alegria. Me viu e deu um sorriso lindo.

Fique feliz porque consegui chegar a tempo de brincar alguns minutos com João Antonio, amamentar e colocá-lo para dormir. Sei que nem todos os dias isso vai acontecer. E estou preparada para isso; aliás, acho que estou. E aí, eu penso: “As mães mais experientes têm mesmo razão. A gente sobrevive”.