Mais de 60% das pessoas com cefaleia crônica diária têm transtornos psiquiátricos

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 24/07/2012 às 0:05

Constantes dores de cabeça que se repetem por mais de três meses e os sintomas penduram por mais de 15 dias em um mês são sinais de enxaqueca crônica. O tipo mais comum de enxaqueca, no entanto, é a episódica - caracterizada por um grande intervalo livre de dor entre as crises.

Já a cefaleia crônica, diagnosticada em 3% a 5% da população, é caracterizada pelas crises diárias e geralmente está associada a sintomas de ansiedade e humor.

O neurologista Ariovaldo da Silva Júnior, membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, afirma que mais de dois terços dos pacientes que têm cefaleia crônica diária apresentam também transtornos psiquiátricos, principalmente de ansiedade e de humor, como a depressão.

A incidência desses transtornos psiquiátricos em pacientes com enxaqueca crônica era atribuída a uma forte influência do estilo de vida urbano dos pacientes. Contudo, o estudo realizado por Ariovaldo mostrou que as pessoas com enxaqueca crônica que vivem longe das grandes cidades também têm, na maioria das vezes, os mesmos transtornos mentais dos que moram nos centros urbanos. Dessa forma, é possível concluir que a causa da doença está mais ligada à herança genética do que a fatores ambientais.

O estudo, que será apresentado durante o 14º Congresso Mundial de Dor, em Milão (Itália), em agosto, foi realizado com pessoas da comunidade e do centro urbano. O objetivo foi comparar os dados demográficos e os distúrbios psiquiátricos na incidência de cefaleia.

Entre os indivíduos de comunidade área rural, 65,9% foram diagnosticados com algum transtorno psiquiátrico, em relação a 83,7% do centro. Os distúrbios mais presentes no centro urbano foram a fobia simples (41,9%), transtorno de ansiedade generalizada (34,9%) e depressão (32,6%). Já na comunidade rural, 39% sofrem de ansiedade, 29,3% de fobias e 29,3% de depressão.

Para Ariovaldo, as pessoas que têm dor de cabeça quase diariamente merecem atenção especial na investigação de transtornos de humor e de ansiedade para que tenham um tratamento adequado e melhora na qualidade de vida. Noites mal dormidas, má alimentação e fatores emocionais (como ansiedade, nervosismo, irritação e alto grau de exigência) são alguns dos fatores que causam ou agravam as dores de cabeça.

Para que o tratamento seja eficiente, é necessário identificar todos os transtornos, pois o diagnóstico de só um dos distúrbios pode representar uma melhora parcial. "Os pacientes precisam de atendimento com escuta ampliada, que inclua a investigação dos fatores ansiedade e humor, como ainda a avaliação do impacto no diagnóstico de cefaleia crônica", conclui o neurologista.