Novo diagnóstico de crianças com dificuldade na fala acaba de ser validado no Brasil

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 17/03/2012 às 0:21

Crianças com problemas na percepção e no processamento de informações auditivas podem ser precocemente diagnosticadas, mesmo quando não possuem recurso de fala ou o apresentem de maneira prejudicada.

Essa possibilidade vem de um novo exame cujo método foi desenvolvido nos Estados Unidos, há cerca de dez anos.

O procedimento acaba de ser validado no Brasil pela pesquisadora Caroline Nunes Rocha Muniz, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP).

"Foi importante conseguir trazer esse equipamento para o Brasil e testá-lo em crianças brasileiras. Ele se mostrou ser um exame eficiente e sensível, que pode ser aplicado em qualquer parte do mundo, pois são ondas elétricas cerebrais em resposta a estímulos”, diz Caroline.

O aparelho para realizar o exame foi importado com o auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e se encontra no laboratório de investigação fonoaudiológica em processamento auditivo da FM/USP.

Para validar o exame, Caroline selecionou 75 crianças, com idades entre 6 e 12 anos.

Elas foram divididas em três grupos:

- Crianças que não apresentam nenhuma dificuldade de fala

- Crianças com distúrbio específico de linguagem, que apresentam alterações no desenvolvimento de linguagem, sem possuir nenhuma causa ou razão aparente

- Crianças com transtorno de processamento auditivo, que possuem audição normal, mas apresentam dificuldades em perceber e processar sons, em compreender a fala na presença de ruídos, têm dificuldade em se concentrar numa informação e podem apresentar problemas escolares, como na escrita e na leitura

Todas foram submetidas aos mesmos testes, que consistiam na exposição a ruídos e a diferentes estímulos, como cliques e o som de fala (sílaba /da/). Essa exposição foi feita através de fones de ouvidos, e a captação da resposta era feita pelos eletrodos, colocados em pontos específicos da cabeça dos pacientes.

No primeiro teste, as crianças ouviam um estímulo numa orelha e um ruído na outra. O cérebro libera uma série de ondas em resposta a esses sinais e, ao depender da forma que o cérebro processa esses sons, é possível monitorar o padrão das respostas.

"O cérebro é bastante fiel àquilo que ouve. Ele reproduz perfeitamente aquilo que conseguiu ouvir através de ondas", frisa Caroline, que acrescenta: "Dessa forma, eu comparei o quadro de ondas de sons emitidos para a criança com a resposta que o cérebro delas deu àquilo".

Ela destaca que, dessa maneira, foi capaz de ter a noção de como os sons de fala estavam sendo codificados pelas crianças.

Com crianças sem dificuldade de fala, os dois quadros de ondas eram extremamente similares: as ondas do som e as ondas de resposta do cérebro. Já quando havia alguma alteração na audição, certos pontos divergiam entre os quadros de ondas.

"Os dois grupos que apresentavam alguma deficiência mostraram problemas da decodificação dos sons. Os picos de ondas não se pareciam com o pico de ondas das crianças com desenvolvimento normal", afirma a pesquisadora. Diferentemente da metodologia tradicional, esse exame permite que crianças com extrema dificuldade de fala, linguagem e percepção auditiva sejam mais precocemente diagnosticadas.