Risco de morte súbita em corredores de maratona não é tão grande quanto parece

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 23/01/2012 às 0:43

Por ano, aproximadamente 2 milhões de pessoas participam de corridas de longa distância nos Estados Unidos. Nesse público, casos de paradas cardíacas têm gerado preocupação em relação à segurança dessa atividade.

Foi com base nesse fato que pesquisadores analisaram o público americano que participa dessas competições (maratona e meia-maratona) entre janeiro de 2000 e maio de 2010.

O estudo, intitulado Cardiac Arrest during Long-Distance Running Races (em português, algo como Parada cardíaca durante corridas de longa distância), foi publicado na edição de janeiro deste ano do The New England Journal of Medicine (NEJM).

A pesquisa, que investigou quase 11 milhões de corredores inscritos nas maratonas dos Estados Unidos no período de 10 anos, revela que houve 59 paradas cardíacas - 40 em maratonas e 19 em meias-maratonas (risco de 0,54 por 100 mil corredores). Do total, mais de 85% das vítimas eram homens, e 71% dos casos foram fatais.

O trabalho é comentado pelo cardiologista e ritmologista Leandro Zimerman, da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac). "Trata-se de um estudo muito sério, que confirma como a atividade competitiva pode trazer alterações nem sempre benéficas ao coração. O risco absoluto, contudo, não é tão grande quanto parecia", diz o cardiologista. O grande problema ainda é o excesso.

Em uma análise do estudo, Zimerman aponta é preciso prestar atenção aos exageros. “Toda atividade física regular é amplamente positiva e recomendada. Mas o próprio artigo mostra que, no esforço maior, há mais risco do que no menor”, argumenta o cardiologista. Por esforço maior, entenda-se correr maratona. E esforço menor, correr meia-maratona.

Além disso, o cardiologista e ritmologista da Sobrac explica que há um risco maior para pessoas com histórico de doença arterial coronariana.

Embora o artigo seja revelador do ponto de análise mais quantitativo do que qualitativo, a recomendação de Zimerman é de que os maratonistas devem estar bem preparados e avaliados, pois o esforço é grande durante a atividade.

Ele ainda explica que os exercícios de alta intensidade aumentam as chances de ocorrências de arritmias cardíacas e morte súbita, pois o treinamento intenso de longo prazo altera a estrutura do coração. "A pesquisa diz que o risco de morte súbita não é tão grande quanto estava se supondo até então. Mesmo assim, o risco existe", alerta o médico.

E mais: o cardiologista frisa que o maior número de casos noticiado, em todo o mundo, parece se dever ao grande aumento do número de praticantes de corridas de longa distância, e não a um aumento do risco.

Vale salientar que mundialmente há a exigência de atestado de liberação médica para a participação nas grandes maratonas.

Para a prática esportiva comum, Zimerman recomenda uma avaliação médica anual, enquanto que a avaliação médica e um treinamento adequado são imprescindíveis para corredores praticantes.