EUA: 10 milhões de adultos com mais de 50 anos cuidam dos pais idosos, diz pesquisa

Cinthya Leite
Cinthya Leite
Publicado em 18/12/2011 às 23:03

Na revista Arrecifes de hoje (18/12), contamos histórias de famílias e profissionais que dedicam um leque imenso de atenção aos idosos.

Para exercer o ofício, o cuidador deve no mínimo gostar de pessoas idosas (Foto: Flora Pimentel / JC Imagem)

São os cuidadores, que podem ser um parente ou uma pessoa contratada para a função. Para exercer o ofício, deve-se no mínimo gostar de pessoas idosas.

Atualmente, nos Estados Unidos, quase 10 milhões de adultos com idade acima de 50 anos cuidam de seus pais idosos. Em 1994, esse número era três vezes menor, segundo a pesquisa Double jeopardy for baby boomers caring for their parents.

Aqui no Brasil, o cuidador informal também é geralmente alguém da família (cônjuge, filhos, irmãos). Normalmente, é uma pessoa do sexo feminino que tem maior intimidade e melhor relacionamento com a pessoa idosa.

Na maioria das vezes, esse cuidador informal é levado pela emoção. Por isso, o fato de ter uma história comum com a pessoa cuidada pode tornar mais estressante a realização dos cuidados.

O total de filhos adultos que presta cuidados pessoais e financeiros aos seus pais representa um 1/4 dos filhos adultos americanos. Em geral, as filhas cuidadoras são mais propensas a prestar cuidados básicos (ajuda para vestir-se, alimentação, banho) e os filhos tendem a prestar assistência financeira.

O estudo foi conduzido pela MetLife Mature Market Institute, pela National Alliance for Caregiving e pelo Center for Long Term Care Research and Policy at New York Medical College - todos defensores dos cuidados de longa duração.  O levantamento mostrou também que os cuidadores informais também estão envelhecendo e, ao mesmo tempo em que prestam cuidados, também precisam planejar e poupar para assegurar a própria velhice.

A pesquisa é uma interessante atualização do olhar sobre os filhos adultos que trabalham e, ao mesmo tempo, cuidam dos seus pais. Essa análise também mostra o impacto da prestação de cuidados nos rendimentos.

Os dados do estudo revelam que os cuidadores informais perdem cerca de US$ 3 trilhões em salários de pensão e benefícios da previdência social quando tiram uma folga do trabalho para ajudar seus pais idosos. Revelou-se ainda que a perda média é de US$ 324.044 para os cuidadores mulheres e de $ 283.716 para os homens.

"Tão importante quanto o impacto financeiro é o impacto emocional dessa decisão: uma das coisas mais complexas e difíceis que uma pessoa pode experimentar é cuidar de um pai idoso", afirma a médica Vanessa Morais, que dirige a VRMedCare, em São Paulo, empresa especializada em cuidados domiciliares a pessoas que vivenciam o envelhecimento com limitações.

Ela informa que, para tornar essa tarefa mais fácil, é preciso aceitar que as coisas mudaram. "É preciso estar preparado para esse paradigma radicalmente novo. Quando se começa a cuidar de seus pais, eles perdem a única coisa que sempre tiveram em relação a você: a autoridade", frisa Vanessa. Diante disso, ela aconselha: "Deve-se esperar com paciência para os idosos trabalharem internamente essa perda".

Além disso, é muito importante dar autonomia ao idosos. "Na medida do possível, é preciso que os filhos cuidadores ofereçam opções aos pais, ao invés de ordens a serem cumpridas. É importante que eles continuem a sentir que estão no comando da própria vida", diz a médica Renata Diniz, que também dirige a VRMedCare.

A especialista ainda informa que uma maneira de demonstrar amor e respeito aos pais é pedir conselhos a eles. "Consulte-os sobre um problema ou decisão. Eles se sentirão muito bem em poder ajudar", ressalta.

A médica destaca também que o cuidador familiar não pode esquecer de viver a própria vida. "Não se deve deixar de lado a diversão e a atenção à própria vida", reforça Renata Diniz.

E o geriatra Alexandre de Mattos, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, concorda que os cuidadores, principalmente aqueles que são parentes dos idosos, precisam ter um tempo para cuidar de si.

"Algumas instituições recomendam que o cuidador tire um dia na semana, uma semana no mês e um mês no ano para tentar se afastar da atividade de cuidar", avisa o médico, que desenvolve projeto de pesquisa para avaliar como o cuidador é impactado diante da tarefa de se dedicar a idosos que convivem com a doença de Alzheimer.

É uma estratégia que ajuda a diminuir a sobre carga e o risco de desenvolvimento de estresse, depressão e transtornos de ansiedade.

Como o envelhecimento populacional só faz crescer em todo o mundo, vamos começar a refletir mais sobre o assunto?

Um abraço e uma ótima semana,